Promoção do Ano: VEJA por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

As diferentes estratégias da oposição a Bolsonaro, de Rodrigo Maia a Lula

Maia age com racionalidade, enquanto o ex-presidente revela sua insensibilidade e celebra a doença que já matou milhares de brasileiros

Por Nonato Viegas Atualizado em 4 jun 2024, 14h30 - Publicado em 22 Maio 2020, 06h00

Da direita à esquerda, são cada vez mais recorrentes as manifestações de políticos pelo fim imediato do mandato de Jair Bolsonaro. O ex-presidente Lula (PT) conclamou o povo a pressionar a Câmara pela abertura de um processo de impeachment contra o ex-capitão. Já o seu antecessor Fernando Henrique Cardoso (PSDB) prescreveu a renúncia como o melhor remédio, no que foi acompanhado pela deputada estadual Janaina Paschoal (PSL), uma ex-aliada de Bolsonaro que chegou a ser cotada para o posto de vice em sua chapa eleitoral. Em meio à crise política, econômica e de saúde pública, o presidente está pressionado, perde popularidade e enfrenta investigações no Judiciário, mas não corre, ao menos por enquanto, o risco de deixar o poder. Por uma razão simples: mesmo os seus principais adversários admitem que ainda não há as condições necessárias para a sua destituição — entre elas, um clamor pelo impeachment tanto nas ruas como entre os grandes empresários.

Nas disputas de poder, uma regra básica diz que, quando o seu rival está em apuros, o melhor a fazer, às vezes, é deixá-lo sozinho no centro da arena, tropeçando nos próprios erros, sangrando sem ter com quem dividir a atenção. O PT apostava nessa estratégia, mas viu seu plano ratear justamente pelas mãos de Lula, que se gaba de ser um animal político. Na terça-feira 19, em entrevista à revista CartaCapital, o ex-presidiário celebrou o novo coronavírus como uma espécie de trunfo político, que daria razão à sua pregação por mais participação do Estado na economia e, assim, desacreditaria a agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes. Disse ele: “Quando eu vejo essas pessoas acharem bonito que ‘tem que vender tudo o que é público’, que ‘o público não presta nada’, ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus. Porque esse monstro está permitindo que os cegos comecem a enxergar que apenas o Estado é capaz de dar solução a determinadas crises”. Difícil saber qual declaração é pior: essa ou o “E daí?”, de Bolsonaro.

Transmitida pelas redes sociais, a entrevista de Lula não atraiu, em boa parte do tempo, nem 200 espectadores no Twitter. Mas a declaração dele (repita-se: “ainda bem que a natureza, contra a vontade da humanidade, criou esse monstro chamado coronavírus”) teve repercussão imediata por ser uma afronta indecorosa diante das quase 20 000 mortes registradas no país pela Covid-19. Nas redes sociais, a fala foi usada para igualar o petista a Bolsonaro e para ressuscitar a tese de que os dois são opostos que se equivalem — tese que o PT tenta desconstruir desde a última campanha. Diante do estrago, Lula, quem diria, tentou se desculpar: “Usei uma frase totalmente infeliz. E a palavra desculpa foi feita pra gente usar com muita humildade”. Principal partido de oposição no país, o PT só passou a entoar discursos a favor do impeachment recentemente. Até pouco tempo atrás, a legenda achava mais conveniente concentrar suas forças na defesa do sistema público de saúde e nas críticas às decisões de Bolsonaro em resposta à pandemia. O agravamento da crise levou à subida de tom.

LULA-MINO CARTA-LIVE-2020-232.jpg
INFAME - Lula: “Ainda bem que a natureza criou esse monstro chamado coronavírus” (//Reprodução)

Pela Constituição, cabe ao presidente da Câmara autorizar a abertura de uma ação de impedimento. O cargo hoje é ocupado por Rodrigo Maia (DEM), que, apesar de ser alvo preferencial das milícias digitais a serviço de Bolsonaro, não pretende instaurar um processo do tipo. O deputado alega que, além de Bolsonaro ter o apoio de cerca de 30% da população e de setores importantes do PIB, a prioridade do Congresso deve ser a votação de medidas que ajudem no combate aos efeitos da crise, sobretudo os econômicos. Foi por pressão dos congressistas, por exemplo, que o valor do auxílio emergencial passou de 200 reais, conforme proposto pela equipe econômica, para 600 reais. Quando é cobrado a decidir sobre os mais de trinta pedidos de impeachment já apresentados contra Bolsonaro, Maia costuma dizer que pretende deixar como marcas de sua passagem pelo comando da Casa a moderação e a aprovação de uma agenda econômica prioritária para o país. A deflagração de uma guerra política, principalmente em meio à grave crise que o Brasil enfrenta, não estaria entre as suas prioridades.

Continua após a publicidade

ASSINE VEJA

Coronavírus: ninguém está imune
Coronavírus: ninguém está imune Como a pandemia afeta crianças e adolescentes, a delação que ameaça Witzel e mais. Leia na edição da semana ()
Clique e Assine

Evidentemente, a ponderada posição do deputado não encerra apenas uma preocupação com o país, como ele tanto faz questão de ressaltar. Ela traz também um cálculo político. A moderação e a pauta econômica são as apostas do parlamentar para continuar se equilibrando como o principal interlocutor dos donos do dinheiro no Congresso mesmo quando ele deixar a presidência da Câmara. Mais: são suas apostas para figurar, pelo menos como vice, em alguma das chapas presidenciais de centro em 2022 — uma bela lição para quem acha que política é a arte de torcer pela desgraça alheia.

Publicado em VEJA de 27 de maio de 2020, edição nº 2688

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

3 meses por 12,00
(equivalente a 4,00/mês)

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.