As articulações para definir os candidatos a prefeito em 2020
Com Lula solto e Bolsonaro fora do PSL, as eleições municipais já pegam fogo
As negociações para decidir quem vai disputar o pleito municipal de 2020 já vinham acontecendo, mas, nos últimos dias, pegaram fogo de vez. O aumento da temperatura tem relação direta com os dois mais importantes cabos eleitorais do país: Lula e Bolsonaro. Depois de deixar a prisão, o petista vem conversando com dezenas de lideranças de esquerda para formar palanques nas principais cidades. Enquanto isso, o presidente, ao abandonar o PSL e criar a Aliança pelo Brasil, embaralhou o jogo, desfazendo candidaturas quase certas e abrindo oportunidades para outros nomes. O capitão não sabe se conseguirá oficializar a nova legenda a tempo de que ela participe da disputa. Se não conseguir, diz ele, ficará longe das campanhas. Ninguém acredita nisso, claro, pois as batalhas do próximo ano terão impacto relevante na guerra presidencial de 2022.
No universo de quase 5 600 cidades, as prefeituras mais cobiçadas são a de São Paulo e a do Rio de Janeiro. Em ambas, o cenário está emboladíssimo. Em decorrência da falta de novas lideranças e dos estragos provocados pelos escândalos de corrupção, a situação do PT é tão complicada que o nome da ex-prefeita Marta Suplicy é cogitado com seriedade. Ela votou pelo impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, depois de se desfiliar da legenda em 2015 (alegou que não podia conviver com a corrupção). Sem partido desde 2018, após passar pelo MDB, é execrada por muitos petistas. Dias atrás, porém, Lula publicou uma mensagem no Twitter em que abria as portas ao seu retorno: “A Marta fez muito pelo PT, foi a melhor prefeita que São Paulo teve. Se quiser voltar, da mesma forma que saiu, ela pede pra entrar”.
Uma das possibilidades seria Marta virar vice de Fernando Haddad, que resiste a embarcar na corrida de 2020, como deseja Lula. Na tentativa de se reeleger em São Paulo em 2016, Haddad sofreu uma derrota humilhante para o tucano João Doria, que nunca havia disputado uma eleição e venceu no primeiro turno. O petista prefere se preservar para tentar novamente a Presidência em 2022, caso Lula permaneça inelegível. “Uma derrota em 2020 provocaria enorme desgaste”, diz Cristiano Noronha, sócio da consultoria política Arko Advice. Se Haddad não topar mesmo a missão, Alexandre Padilha será o plano B para formar chapa com Marta. Em outubro, quando o ex-presidente cumpria pena em Curitiba, o ex-ministro das Relações Institucionais e da Saúde dos governos petistas foi chamado para uma conversa. Lula queria saber se ele aceitaria concorrer em São Paulo. A resposta foi sim.
O ninho tucano também passa por dificuldades em São Paulo. No fim de outubro, o prefeito Bruno Covas foi diagnosticado com um câncer. Ele continua no cargo, mas não é possível prever a duração do tratamento. Antes disso, já enfrentava dificuldades, com baixa taxa de aprovação nas pesquisas. No dia 25, Doria defendeu a filiação ao PSDB da deputada Joice Hasselmann, que ensaia deixar o PSL. O governador sugeriu ainda que ela seja a vice de Covas em São Paulo. Isso fortaleceria os tucanos na disputa, e Joice poderia até assumir a cabeça de chapa no caso de Covas não poder concorrer. De quebra, tendo em vista 2022, o movimento ajudaria Doria a atrair para o seu lado o PSL, engrossando seu arco de alianças para se tornar o grande nome nacional do centro (o DEM também está na mira). O plano faz sentido, só falta combinar com os “russos”. “A chance de Joice sair como vice do Covas é zero”, afirma o deputado Delegado Waldir (PSL-GO), ex-líder da bancada na Câmara.
No Rio, o prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) se encaminha para o fim do mandato desgastado, e o seu antecessor, Eduardo Paes (DEM), lidera as pesquisas. Na falta de um nome promissor do PT, Lula deve apoiar Marcelo Freixo (PSOL). Nesta semana, o governador Wilson Witzel (PSC) confidenciou a aliados que seu nome é a juíza Glória Heloíza Lima da Silva, novata na política. A saída de Flávio Bolsonaro da presidência do PSL local mudou as configurações para 2020. O deputado federal Hélio Negão, favorito de Jair Bolsonaro, deve deixar o PSL, abrindo caminho ao deputado estadual Rodrigo Amorim. Como se vê, as peças apenas começaram a se movimentar no tabuleiro e muita coisa pode mudar. Mas o jogo das eleições municipais já se iniciou.
Publicado em VEJA de 4 de dezembro de 2019, edição nº 2663