As apostas do PT para reescrever a biografia de Dilma Rousseff
Até a tragédia provocada pelas enchentes no Rio Grande do Sul está sendo usada para criar uma versão edulcorada da ex-presidente

Primeiro foi o impeachment. Depois, uma derrota acachapante nas eleições para o Senado em Minas Gerais. O mundo político apostava que, após esses dois episódios, a carreira da ex-presidente Dilma Rousseff estava encerrada. Ela mesma já havia confidenciado a pessoas próximas que não pretendia voltar à vida pública.
A eleição de Lula fez a ex-presidente repensar. Agastada com o PT, que a responsabiliza pelo desastre político do seu governo, ela entrou na lista dos personagens que caíram em desgraça no passado e agora estão tendo a biografia convenientemente reescrita.
Depois da posse de Lula, Dilma ganhou a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento, o chamado Banco dos Brics, com sede na China. Na última terça-feira, ela anunciou que a instituição vai emprestar 1 bilhão de dólares para a reconstrução do Rio Grande do Sul.
O anúncio, gravado em vídeo, chegou a ser celebrado por alguns petistas gaúchos, que lembraram dos vínculos que a ex-presidente tem com o estado. Dilma nasceu em Minas Gerais, mas morou e fez carreira no Rio Grande do Sul.
As tragédias podem consagrar ou enterrar biografias. Lula, o PT e agora a própria Dilma sabem disso e não querem perder a oportunidade. No caso da ex-presidente, o plano é bombardear ao máximo a versão, falsa, de que ela foi vítima de um golpe parlamentar.
A Fundação Perseu Abramo, que pertence ao PT e é financiada com dinheiro do fundo partidário, lançou recentemente o livro Brasil – Problemas Estruturais e Perspectivas de Transformação. Lula assina o prefácio, cita Dilma e fala do golpe que não existiu.
“Eu não tinha dúvidas de que a verdade e o amor venceriam o ódio e a mentira. O fato concreto é que a partir de 2020, quatro anos após o golpe contra a presidenta Dilma, voltamos a trabalhar com ainda mais foco naquilo que nós, do Instituto Lula, sabemos fazer muito bem: buscar soluções para mudar o Brasil”, escreveu o presidente.
O PT também utiliza suas redes sociais para defender a ex-presidente da República. No site do partido, Dilma é apresentada como a mulher injustiçada, mas que conseguiu plantar sementes para o futuro.
Pegando carona na tragédia do Rio Grande do Sul, o partido também destaca que, em 2011, quando era presidente, Dilma estruturou um plano inédito contra desastres naturais, após as enchentes e deslizamentos em municípios do Rio de Janeiro. As tragédias podem consagrar ou enterrar biografias — e, quem sabe, até resgatar.