Advogado que delatou juiz Bretas desfaz acordo e retira acusações
José Antônio Fichtner havia delatado o próprio irmão e era um dos denunciantes da "tortura psicológica" supostamente praticada pela Lava-Jato
Figurão no ramo de arbitragem, o advogado José Antonio Fichtner decidiu procurar o Ministério Público e retirar todas as acusações que havia feito contra os métodos de investigação de procuradores da Lava-Jato no Rio de Janeiro e contra o juiz Marcelo Bretas, responsável pelos processos do petrolão e a quem imputava atuar “em conluio” com integrantes do MP para perseguir adversários.
Fichtner havia fechado um acordo de delação premiada que alvejava, além de Bretas, o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) e grande parte da antiga cúpula do governo do Rio, incluindo o próprio irmão, o ex-secretário da Casa Civil Régis Fichtner, e se dispusera a depor na Procuradoria-geral da República, em Brasília, exclusivamente para detalhar a atuação pouco ortodoxa de Bretas à frente do que chamou de “tortura psicológica” contra investigados.
Em depoimentos à equipe da subprocuradora Lindôra Araújo, o advogado havia dito que ouvira ameaças de representantes do Ministério Público caso não colaborasse com as investigações sobre o braço fluminense da Lava-Jato e acusou o magistrado de fazer dobradinha com procuradores para pressionar investigados a fechar acordos de delação e de dirigir acusações a autoridades previamente escolhidas. Segundo Fichtner, para que réus confessassem irregularidades (nem sempre verdadeiras), Bretas usava os préstimos do criminalista Nythalmar Dias Ferreira Filho, que, ainda de acordo com o delator, se apresentava como alguém com acesso privilegiado ao juiz e aos procuradores e era capaz de atenuar condenações, blindar investigados e conseguir bons acordos para réus.
Em uma carta enviada à PGR no final de 2020, por exemplo, José Antonio Fichtner disse que Nythalmar falava abertamente do trânsito e de facilidades que conseguiria com o titular da 7ª Vara Federal Criminal do Rio, antecipava decisões que seriam tomadas futuramente pelo magistrado e alegava que conseguia direcionar acordos de colaboração para blindar investigados. Não é a primeira vez que Fichtner tenta atenuar as tintas das acusações que fez em sua delação.
No acordo original de colaboração, por exemplo, ele havia dito que vendeu um apartamento em Florianópolis para a mãe do deputado Aécio Neves e que depois devolveu o valor da transação, em dinheiro vivo, à irmã do parlamentar, Andrea Neves. Tempos depois, o delator afirmou que esse relato não era verdadeiro e que não houve crime na transação feita com a família de Aécio. Agora, porém, o advogado-delator promoveu uma reviravolta completa e desfez a própria colaboração. Procurado, Fichtner disse a VEJA que não vai se manifestar.