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Acusações marcam duelo de bolsonaristas em campanha em Foz do Iguaçu

Disputa se transformou em caso de polícia com interceptações telefônicas ilegais e briga entre os candidatos favoritos. Ambos são aliados do ex-presidente

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 27 jul 2024, 08h00

A campanha eleitoral para a prefeitura de Foz do Iguaçu ainda nem começou oficialmente e já se transformou num caso de polícia envolvendo os dois principais postulantes ao cargo. O empresário Paulo Mac Donald, candidato do PP, afirma que suas ligações telefônicas foram interceptadas e suas mensagens em aplicativos, acessadas — tudo de forma clandestina e com objetivos políticos. Ele conta que, no início do mês passado, percebeu que informações restritas a um pequeno grupo de assessores estavam chegando ao conhecimento dos adversários. Na tentativa de identificar a origem de eventuais vazamentos, contratou uma empresa especializada em contraespionagem. Na semana passada, recebeu a confirmação: seus celulares haviam sido grampeados. O laudo técnico apontando a violação foi enviado à Polícia Federal, acompanhado de um pedido de abertura de inquérito para identificar os responsáveis. O caso promete inflamar a disputa na sétima maior cidade do Paraná.

Ex-prefeito da cidade, Mac Donald aparece nas pesquisas mais recentes como o favorito. Ele diz que vinha notando ruídos estranhos em suas ligações, mas, de início, não deu muita importância. Mas também surgiram certas coincidências. O candidato mantém uma rotina de encontros com grupos de eleitores e começou a perceber que seu roteiro estava sendo precedido por visitas de adversários. Algumas agendas, inclusive, eram de conhecimento apenas dele e da esposa, o que afastava a possibilidade de vazamento. Acendeu-se a luz amarela. Mac Donald contratou então uma empresa israelense, que comprovou a suspeita, relatando que o celular dele foi interceptado por trinta dias. O laudo técnico não revela detalhes da descoberta, mas fica evidente que foi trabalho de profissionais. Mas, quem? “Não queremos acusar ninguém até que tudo seja devidamente investigado”, diz o candidato, prudente.

O ADVERSÁRIO - General Silva e Luna, do PL: “Não tenho nada a ver com isso”
O ADVERSÁRIO - General Silva e Luna, do PL: “Não tenho nada a ver com isso” (//Divulgação)

Sob reserva, no entanto, aliados do candidato são um pouco menos cuidadosos. Eles não apontam o dedo diretamente a ninguém, mas lembram que alguns dos tais emissários que provavelmente sabiam da agenda do empresário eram ligados ao general Joaquim Silva e Luna, ex-ministro da Defesa, ex-presidente da Itaipu Binacional, ex-presidente da Petrobras no governo Jair Bolsonaro e agora candidato do PL à prefeitura de Foz. “O general, claro, seria o principal interessado em violar os telefones do nosso candidato. Não vejo quem mais poderia se beneficiar disso”, diz o deputado federal Nelsi Vermelho (PL), que encaminhou o pedido de investigação à Polícia Federal. Ao deixar a Petrobras, em março de 2022, Silva e Luna montou uma empresa que, entre outras atividades, vende serviços de segurança privada e vigilância. Isso não quer dizer nada, mas tem ajudado a alimentar as intrigas. “Não tenho nada a ver com isso. Tenho 54 anos de vida pública e zero de problema”, rebate o general.

A campanha em Foz tem outro ingrediente igualmente inflamável. Em 2022, Jair Bolsonaro teve o dobro dos votos de Lula na cidade. O apoio do ex-presidente, portanto, é tido como decisivo. O problema é que ele fez juras aos dois candidatos. No início do ano, quando os partidos ainda definiam os nomes para a disputa, Bolsonaro foi procurado pelo deputado Ricardo Barros, presidente do PP no Paraná. O parlamentar queria aval para lançar Silva e Luna como candidato. No encontro, o ex-presidente vetou o nome do general: “Ele, quando estava na Petrobras, só me prejudicou. Ganhava um salário de 240 000 reais por mês, dividendos, e aumentava a gasolina a cada dois, três dias”, teria dito Bolsonaro, segundo relato do deputado Nelsi Vermelho, que também participou da reunião. Sabendo do peso político do ex-presidente, o PP optou então por Paulo Mac Donald, que foi um dos coordenadores da campanha do capitão no Paraná.

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A TRAIÇÃO - Barros e Jair Bolsonaro: veto e promessa de apoio ao mesmo tempo
A TRAIÇÃO - Barros e Jair Bolsonaro: veto e promessa de apoio ao mesmo tempo (//Reprodução)

Preterido, Silva e Luna se filiou ao PL, o mesmo partido de Bolsonaro. Num acordo político que envolveu o governador paranaense Ratinho Junior (PSD), o general foi escolhido para disputar com Mac Donald o comando de Foz. A decisão deixou o ex-­presidente numa situação delicada, dividido entre dois apoiadores, aguardado em dois palanques. Uma pesquisa recente realizada pela empresa Radar Inteligência mostra que o candidato do PP tem a preferência de 44,6% do eleitorado. O general Silva e Luna aparece em segundo lugar, com 17%. O militar conta com o ex-presidente para inverter esses números. “O presidente me ligou recentemente e falou assim: ‘Como é que estão as coisas aí?’ E disse que, em breve, vai passar três dias aqui na região, começando a visita por Foz do Iguaçu”, comemora Silva e Luna. Indagado sobre essa reviravolta, Mac Donald disse que ainda aguarda uma sinalização: “Eu apoiei o Bolsonaro na campanha dele, apoiei a eleição dele de graça, gravei vídeo, pedi voto e tudo”. A palavra traição, por enquanto, aparece apenas em conversas reservadas entre os aliados do ex-prefeito.

Publicado em VEJA de 26 de julho de 2024, edição nº 2903

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