A tristeza de Flávio Dino ao trocar a política pelo Supremo
Ex-ministro da Justiça ainda alimenta o sonho de disputar a Presidência da República -- em 2026 ou 2030
No próximo dia 22, Flávio Dino vai assumir a cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal após ter sido indicado pelo presidente Lula. A chegada à mais alta Corte do país, celebrada numa cerimônia que reunirá as principais autoridades da República, representa o topo que qualquer magistrado sonharia alcançar. No caso de Dino, porém, não é bem assim.
A data vai sacramentar uma inesperada guinada na carreira de Flávio Dino. Ele ingressou na política em 2006, quando, num movimento inverso ao atual, decidiu largar a magistratura. Foi deputado federal, governador do Maranhão e, com alto índice de aprovação, garantiu com facilidade a eleição ao Senado em 2022. A jornada meteórica dava tranquilidade a Dino para dizer, enquanto exercia a função de ministro da Justiça, que disputaria a Presidência tão logo Lula saísse de cena. “Não existe vácuo de poder”, costumava repetir. A ida de Dino à mais alta Corte do país, porém, alterou essa rota – ao menos momentaneamente.
Nas últimas semanas, VEJA conversou com alguns dos principais aliados de Flávio Dino e com pessoas que acompanharam de perto a indicação dele ao Supremo. Dino demonstrava entusiasmo com a função de ministro da Justiça – o que não se pode dizer de quando ele foi convidado (leia-se, convocado) pelo presidente para assumir o STF. Quem conversou com o maranhense afirma que ele ficou “arrasado” com a “missão”. “Talvez seja a única pessoa que esteja indo triste para o Supremo”, diz um importante interlocutor do ministro.
Parte desse sentimento foi expressado pelo próprio Dino durante seus últimos momentos como ministro da Justiça. Ele se dedicou a apresentar um minucioso balanço de sua atuação, fez um pronunciamento no qual citou ter esvaziado as gavetas “com muita dor no coração” e se emocionou ao passar o bastão para o sucessor Ricardo Lewandowski.
“Ele não queria ir”, resume um outro aliado do maranhense. Dino, porém, entendia que não poderia rejeitar a proposta de Lula e garantiu sua permanência no posto ao menos enquanto o petista ocupar o Planalto.
‘Tragédia’
Dentro do PSB, partido de Dino, a indicação foi recebida como uma tragédia. O partido do vice Geraldo Alckmin se vê perdendo espaço na Esplanada e também isolado na principal candidatura deste ano, com o lançamento de Tabata Amaral à prefeitura de São Paulo para disputar contra Guilherme Boulos (PSOL), apoiado por Lula.
Internamente, Dino era visto como a principal esperança da legenda para ter uma candidatura presidencial competitiva nos próximos anos. “É como se um novo avião tivesse caído”, comparou um importante dirigente da legenda durante uma conversa com um interlocutor.
Em 2014, no auge da campanha presidencial, o ex-governador Eduardo Campos (PSB) morreu num acidente aéreo. Apesar da comparação, a situação pode ter um outro desfecho, avisa um outro pessebista: “A diferença é que dessa vez há sobrevivente”.
Como mostra reportagem de VEJA desta edição, Dino, um dos ministros mais populares , enfrentou um tiroteio no governo, inclusive por parte de aliados do presidente que viam nele um adversário no cenário pós-Lula, e ainda alimenta a esperança de voltar para a política após uma temporada no Supremo.
Ministros do STF podem permanecer no cargo até atingirem 75 anos, quando alcançam a aposentadoria compulsória. Isso significa que Dino pode atuar como ministro na Corte até abril de 2043. Nada impede, no entanto, que esse período seja encurtado – por motivos políticos ou não. Nelson Jobim, por exemplo, deixou o Supremo dez anos antes do prazo (que à época era aos 70 anos) e, depois, virou ministro da Defesa. Francisco Rezek, num movimento ainda mais ousado, se aposentou com uma antecedência de mais de 20 anos para assumir o Itamaraty. Dois anos depois, foi novamente indicado ao Supremo.
Esse histórico, vale dizer, vem sendo repetido com frequência entre aliados de Flávio Dino.