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A ligação entre delegado que investigou atentado no aeroporto e o general de trama golpista

Nos próximos dias, o delegado que prendeu o responsável pela confecção da bomba deve ser colocado frente a frente com Moraes

Por Marcela Mattos Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 Maio 2025, 15h43 - Publicado em 29 Maio 2025, 19h05

Na madrugada do dia 24 de dezembro de 2022, véspera de Natal, por pouco, muito pouco, Brasília não foi alvo de um terrível atentado. Nas imediações do aeroporto, um caminhão-tanque estava estacionado num local estratégico, próximo aos imensos reservatórios de combustível. Debaixo dele, acoplado em um dos eixos do veículo, havia uma caixa de papelão, com algumas bananas de dinamite dentro, ligadas a um detonador. O artefato foi colocado por dois autoproclamados apoiadores de Jair Bolsonaro, imaginando que a explosão provocaria uma convulsão popular que obrigaria o presidente da República a recorrer às Forças Armadas para restabelecer a ordem e a anunciar medidas extremas para, entre outras coisas, impedir a posse do presidente Lula. O caminhão-bomba continha mais de 60 000 litros de querosene de aviação. A bomba, que certamente provocaria uma tragédia sem precedentes, não explodiu porque o detonador falhou. Na sequência, a polícia foi acionada e os criminosos, presos.

No dia em que o Supremo Tribunal Federal (STF) tornou Jair Bolsonaro réu por tentativa de golpe, o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, apresentou um vídeo com uma sequência de imagens dos distúrbios ocorridos em Brasília após as eleições de 2022. Algumas das cenas eram relativas ao caminhão-tanque e à atuação dos investigadores no local. “Se explodisse a bomba, centenas — se não milhares — de pessoas morreriam”, destacou o magistrado. Nos próximos dias, o delegado que investigou o atentado e prendeu o responsável pela confecção da bomba deve ser colocado frente a frente com Moraes. Marcelo Fernandes será intimado a depor no processo que tramita no STF, arrolado como testemunha de defesa de um dos acusados, o general Mario Fernandes, peça-chave da trama que teria sido orquestrada para subverter a democracia. Por uma dessas ironias do destino, o delegado que evitou a tragédia do carro-bomba em Brasília é irmão do general acusado de participar ativamente da mesma aventura golpista.

Mario Fernandes era próximo de Jair Bolsonaro, ocupou um posto importante no Palácio do Planalto na reta final do governo do ex-capitão e foi autor de um suposto plano para “neutralizar” o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. Acusado de conspirar contra a democracia, o militar está detido preventivamente numa sala de um Batalhão do Exército desde novembro. Se condenado, pode pegar até quarenta anos de prisão. A defesa do general acredita que o depoimento do delegado vai ajudar a mostrar que a conspiração não existiu — ou, se existiu, que o militar não participou dela. Segundo a Procuradoria-Geral da República, Mario Fernandes redigiu o plano intitulado “Punhal Verde e Amarelo” no computador da sala que ocupava no Palácio do Planalto. Depois, imprimiu uma cópia do documento no mesmo dia em que teve uma reunião com o presidente no Alvorada. Os investigadores acreditam que a cópia foi entregue a Bolsonaro.

PERIGO - O caso do carro-bomba: o delegado Marcelo Fernandes localizou o caminhão e prendeu o mentor do atentado, que tinha um verdadeiro arsenal em seu apartamento
PERIGO - O caso do carro-bomba: o delegado Marcelo Fernandes localizou o caminhão e prendeu o mentor do atentado, que tinha um verdadeiro arsenal em seu apartamento (Fotos/Reprodução)

O general ainda não expôs publicamente sua versão sobre a acusação. Sabe-se, no entanto, que ele nega ter apresentado o plano golpista ao presidente. A reunião no Alvorada no mesmo dia da impressão do documento teria sido uma coincidência. Em relação ao “Punhal Verde e Amarelo”, justifica que era apenas uma avaliação de cenário para o caso de um conflito — análise, segundo ele, que é praxe no meio militar. A defesa de Mario Fernandes avalia que o depoimento do irmão vai ajudar a desmantelar a tese de que o general é um extremista. Como os dois são muito próximos, não haveria lógica em considerar que um deles planejou o golpe enquanto o outro agiu para evitar que o pior acontecesse. No dia 24 de dezembro, Marcelo foi acionado diante de um alerta de bomba no aeroporto, encontrou a caixa com os explosivos, localizou o caminhão suspeito e prendeu o autor do atentado fracassado, o gerente de posto de gasolina George Washington de Sousa, que guardava com ele um arsenal.

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Alexandre de Moraes já recusou o pedido de libertação feito pela defesa de Mario Fernandes, que se diz injustiçado. “Ele jamais atuou para colocar a vida de quem quer que seja em risco”, afirma o advogado Marcus Vinícius Figueiredo. Preso há quase 200 dias, o general recebe pouquíssimas visitas — basicamente de familiares. Marcelo, por sua vez, assumiu a chefia da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais. É uma repartição da Polícia Civil responsável por investigar casos de estelionato e golpes — financeiros, diga-se. Nada parecido nem tão grave quanto o que aconteceu na véspera do Natal de 2022.

Publicado em VEJA de 30 de maio de 2025, edição nº 2946

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