A dama do Planalto: o papel de Janja nos bastidores do novo governo Lula
Ela se dedica a organizar a posse em 1º de janeiro, um evento para o qual atraiu uma miríade de músicos que vai de Paulinho da Viola a Pabllo Vittar
“Não tem princesa aqui. Só mulher de luta.” A frase, em um comício de Lula na Baixada Fluminense, em 8 de setembro, foi dita ao microfone pela socióloga Rosângela da Silva, a Janja, mulher do presidente eleito, e tinha endereço certo. Um dia antes, no Rio, ao lado de Michelle, Jair Bolsonaro havia pedido aos apoiadores que comparassem as duas mulheres e recomendou que, como ele, procurassem uma “princesa” para casar. De fato, Janja nada tem a ver com Michelle, que ganhou espaço na campanha misturando pregação religiosa e eleitoral em templos do país, nem com Marcela, a discreta esposa de Michel Temer.
Filiada ao PT desde os 17 anos de idade, a futura primeira-dama conheceu Lula na década de 90, nas Caravanas da Cidadania, e foi ativa no acampamento de militantes que ficou por dias em Curitiba pedindo a soltura do petista. Casou-se com ele em maio, em meio à pré-campanha, e desde então só ganhou protagonismo. Presença constante ao lado de Lula, ajudou o marido a calibrar o discurso em temas como direitos das mulheres, diversidade e proteção animal, e fez a ponte com artistas, influenciadores e celebridades variadas. Dedica-se agora a organizar a posse em 1º de janeiro, um evento para o qual atraiu uma miríade de músicos que vai de Paulinho da Viola a Pabllo Vittar. A Janja, aliás, é atribuído um papel central na escolha da cantora baiana Margareth Menezes como ministra da Cultura, pasta em que a socióloga terá influência certa.
No momento em que Lula vem agindo de forma ainda mais centralizadora do que o habitual, ela é uma das pessoas que ele mais ouve e na qual mais confia. “Quando eu preciso falar (com Lula), eu sou inteligente, ligo para a Janja. Aí é rápido”, brinca o vice Geraldo Alckmin. A futura primeira-dama, que a revista francesa L’Express definiu como uma “personalidade solar”, abriu em agosto o seu perfil no Instagram, com 700 seguidores — hoje tem 1,4 milhão, além de 825 000 no Twitter e 400 000 no TikTok. Nas redes, fala de democracia, direitos humanos, diversidade e autonomia das mulheres, mas também interage com celebridades e seguidores. A um deles disse: “Vamos ressignificar esse conceito de primeira-dama”. Na posse, a nova estrela do Palácio do Planalto promete cantar a uma plateia esperada de 300 000 pessoas.
Publicado em VEJA de 28 de dezembro de 2022, edição nº 2821