A articulação de Lira para a troca de relatores do caso Brazão
Processo de cassação do deputado acusado de mandar matar Marielle será usado para aumentar pressão sobre o governo Lula
Os três parlamentares que tinham sido sorteados para relatar o processo que pede a cassação do deputado federal Chiquinho Brazão, preso por suspeita de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco, desistiram de atuar no caso que tramita no Conselho de Ética da Câmara. A decisão foi creditada a uma articulação encabeçada pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).
Os deputados que abriram mão da relatoria do processo foram Bruno Ganem (Podemos-SP), Gabriel Mota (Republicanos-RR) e Ricardo Ayres (Republicanos-TO). Lira teria convencido as lideranças desses partidos a transferir esses parlamentares para a relatoria de outros processos. O Republicanos, por exemplo, deve relatar agora o processo contra o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), que agrediu um militante do MBL no Congresso.
Na quarta-feira, o colegiado sorteou novos nomes: Jack Rocha (PT-ES), Joseildo Ramos (PT-BA) e Rosângela Reis (PL-MG). O responsável pela escolha do relator é o presidente do conselho, o deputado Leur Lomanto Júnior (União Brasil-BA), aliado de Lira.
A movimentação do presidente da Câmara tinha o objetivo de liberar o espaço desta relatoria para acomodar algum congressista do PL e, com isso, usar a votação desse caso no Conselho de Ética como mais um instrumento de pressão contra o governo Lula. Essa articulação aconteceu no momento em que Lira voltou a trocar petardos com o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP).
Chiquinho Brazão
Brazão foi preso em março por ordem do Supremo Tribunal Federal. Na semana passada, por um placar de 277 a 129, a Câmara decidiu pela manutenção da prisão do parlamentar. No mesmo dia, o Conselho de Ética da Casa abriu um processo de cassação do mandato dele. O pedido foi protocolado pelo Psol, partido ao qual Marielle era filiada.
Na representação, a legenda sustenta que o deputado “desonrou” o cargo e “abusou das prerrogativas asseguradas para cometer ilegalidades”. Defende ainda que a cassação do mandato de Brazão é uma necessidade, sob o risco de virar uma mácula na história do parlamento.