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Rodrigo Maia: “Bolsonarismo mais radical tem no máximo 10% de eleitores”

Presidente da Câmara no tumultuado início do governo Bolsonaro, ele afirma que, se eleito, Lula terá de isolar o extremismo para procurar reconciliar o país

Apresentado por Atualizado em 4 jun 2024, 12h03 - Publicado em 23 set 2022, 06h00

Depois de seis mandatos consecutivos, Rodrigo Maia (PSDB) não vai concorrer à reeleição a deputado federal. Atualmente licenciado do cargo e ocupando um secretariado no governo paulista, o ex-presidente da Câmara diz que deixará a vida pública após o pleito de 2022 e trabalhará na iniciativa privada. Antes, espera reeleger o seu chefe atual, o governador Rodrigo Garcia (PSDB), que iniciou atrás na corrida eleitoral em São Paulo, mas começa a se credenciar para a disputa por uma vaga no segundo turno, de acordo com as últimas pesquisas de votos. Maia foi uma figura central nos dois primeiros anos da gestão Jair Bolsonaro (PL), quando, em meio a uma articulação governista caótica no Parlamento, conduziu com competência a aprovação de projetos como a reforma da Previdência, em meio a caneladas quase diárias com o bolsonarismo, de quem virou desafeto. Hoje, afirma que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria vencer já no primeiro turno e conduzir um governo de transição que isole os radicais à direita e à esquerda e ponha o país na rota da conciliação. “Lula terá de demonstrar muita capacidade para dialogar com segmentos da sociedade que nunca votaram no PT”, afirma.

Quais serão os principais desafios para o próximo presidente? O Brasil tem questões enormes, da preservação do meio ambiente ao ponto de vista fiscal. O país passa pelo aumento da arrecadação devido ao boom das commodities, mas, se você falar com economistas, a projeção para o próximo ano é de déficit. Você sai de um superávit de quase 2% do PIB nos últimos doze meses para um déficit de 1,6%. Ou seja, haverá desafios enormes na economia, que precisarão ser enfrentados.

Tanto Lula quanto Bolsonaro sinalizam que não vão respeitar o teto de gastos. Geraldo Alckmin, vice do petista, disse a empresários que São Paulo nunca teve teto e nas últimas duas décadas sempre respeitou as contas. Qual deve ser a postura do próximo presidente? O teto de gastos foi destruído no último ano e meio e gerou uma bomba para o futuro muito grave e que o próximo presidente terá de resolver, como o parcelamento de precatórios, que vai gerar até 2027 um passivo de centenas de bilhões de reais. Todas as vezes que os governos tentaram expandir despesas sem controle, a vida da população piorou. É só lembrar o que houve no governo Dilma, com recessão de dois anos, e ver o que está acontecendo agora.

“Bolsonaro erra ao comparar os preços da gasolina em Londres e aqui. O valor do combustível não vai decidir a eleição. Quem vai decidir são o ovo, o tomate, o leite, que continuam caros”

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Hoje, segundo as pesquisas, Lula é o favorito à vitória. Acredita em vitória dele no primeiro turno? Com certeza. Para o Brasil, é importante que a eleição acabe no primeiro turno, deixando o próximo presidente com as melhores condições de organizar o mais rápido possível os próximos anos. A desigualdade cresceu, o tempo de estudos das nossas crianças reduziu, a miséria aumentou, assim como o endividamento. Talvez seja importante que o presidente seja eleito com força. E quem tem essas condições hoje é Lula.

Isso é uma declaração de voto e de apoio político? Não. Meu partido apoia a campanha da senadora Simone Tebet (MDB), uma pessoa que vem se mostrando muito preparada.

Se Bolsonaro perder, ele pode ir para casa, como disse recentemente, ou vai sair brigando, como Donald Trump fez nos Estados Unidos? O tamanho do Bolsonaro, se ele realmente perder, vai depender do que o Lula fizer para manter o diálogo com segmentos da sociedade que nunca votaram no PT. O bolsonarismo mais radical não tem 35% de eleitores, é um eleitorado de no máximo 10%. Por que o Bolsonaro tem 35% das intenções de voto? Porque do outro lado tem o antipetismo. Se o Lula vencer, vai depender muito mais dele construir um ambiente para isolar todo o radicalismo, de direita e de esquerda, para poder fazer uma conciliação.

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O que o senhor acha das tentativas de Bolsonaro de desacreditar as eleições e o TSE? Essa é uma prática usada pelos trumpistas. É uma estratégia para tentar criar um ambiente de dúvida. Tanto lá quanto aqui, são questionamentos sem embasamentos técnicos. É nessa linha do nacional-populismo que questiona a democracia liberal. E o principal instrumento da democracia é o voto. As centenas de pessoas que invadiram o Capitólio respondem a processos até hoje.

Acha que Bolsonaro pode virar o jogo com atitudes como a que teve em Londres, comparando o preço do combustível de lá com o do Brasil? Foi um grande erro de estratégia. A população está com dificuldade de pagar a conta de luz, de gás. Bolsonaro está olhando uma coisa, e a sociedade olha outra. Ele deu os 600 reais de auxílio, mas não acredita naquilo. O preço da gasolina não vai decidir a eleição. Quem vai decidir são o ovo, o tomate, o leite, que continuam caros.

Como avalia a gestão de Arthur Lira (PP-AL), seu sucessor? Acredita na recondução dele à Presidência da Câmara? Arthur é um político experiente e lidera com muita contundência a Câmara, como liderou o PP. Eleição para o Legislativo no início de um mandato é sempre difícil, porque o novo governo vem forte. Como os partidos do Centrão não têm uma linha ideológica muito clara, acabam sendo mais pragmáticos. Se for Bolsonaro, fica muito difícil Arthur não se reeleger. Se der Lula, cabe a ele ter a capacidade de compreender a agenda colocada pelo ex-presidente. Se o Arthur vai fazer ou não, eu não sei.

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Qual a principal marca dele na gestão? Foi o orçamento secreto? A capacidade de organizar o orçamento secreto e colocar as pautas que interessam ao governo. É uma Câmara com agenda pró-governo muito maior do que foi no meu período, mas ele deve muito a vitória dele ao Bolsonaro. É normal ele ter dado essa inflexão. Das agendas de reformas, quase nada andou. Os problemas que foram aparecendo foram gerando as agendas de curto prazo. A última PEC (do Auxílio Brasil) fere os controles fiscal e eleitoral a menos de um ano da eleição. Achei que o STF fosse entrar na história, mas o apelo social foi maior do que as condições para intervir. Arthur tem muita competência e boa capacidade de atropelar o processo. Haverá danos ao futuro. Vai caber ao novo governo repactuar isso com o Congresso e organizar a agenda legislativa.

O próximo presidente terá condições de fazer algum tipo de reforma política? O sistema de lista aberta é incompatível com o financiamento público de campanha. Nós precisamos pensar o que é possível. A lista pré-ordenada, com financiamento público, dá certo em muitos países e acho que também dá nitidez ao que cada partido representa. Nesse caso, as ideias do partido é que vão a voto, não o candidato individualmente. Hoje, o candidato é que é votado e representa a sua estrutura política. Agora, quando o que é submetido ao eleitor é o partido, garantindo uma democracia interna, temos um modelo onde a fidelização dos políticos aos partidos é muito maior.

Em São Paulo, o senhor trabalha pela reeleição de Rodrigo Garcia (PSDB), que luta com Tarcísio de Freitas (Republicanos) para saber quem irá ao segundo turno contra Fernando Had­dad (PT). Quem vai passar? Rodrigo vai continuar subindo nas pesquisas. A tendência é termos, no fim do primeiro turno, um empate entre Rodrigo e Haddad.

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Na disputa presidencial, pela primeira vez, o PSDB não tem um candidato. Foi um erro do partido a pressão pela desistência do ex-governador João Doria, depois da vitória dele nas prévias? O enfrentamento ao bolsonarismo deu uma rejeição ao Doria, juntamente com o excesso de exposição. Mas foi uma rejeição injusta. Se não fosse a vacina trazida por ele ao país, haveria mais de 1 milhão de mortes em decorrência da pandemia.

Qual o futuro do centro político, em especial do PSDB? Os quadros que formaram o partido estão aposentados, como Fernando Henrique Cardoso, ou faleceram. As gerações vão passando. O PSDB vive uma transformação, e o principal ativo é o Rodrigo Garcia. Ele é o melhor gestor público que o Brasil tem hoje. Reúne duas qualidades que Doria, José Serra e Alckmin não tinham: bom gestor e bom articulador político. Nenhum dos três conseguiu chegar a Brasília e ser bem recebido.

“Todas as vezes que os governos tentaram expandir despesas sem controle, a vida da população piorou. É só lembrar o que houve no governo Dilma e ver o que está acontecendo agora”

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Como vê o fato de seu nome ter sido citado em delação do empresário Marcus Vinícius Azevedo da Silva, que disse ter arrecadado dinheiro para o senhor e o seu grupo político quando o seu pai, Cesar Maia, era prefeito do Rio de Janeiro? Não conheço, não sei quem é esse vagabundo. A delação teria sido assinada há dois anos e aparece às vésperas da eleição. Quero que me investiguem e, se alguém cometeu crime, que punam.

O senhor não vai mesmo disputar a reeleição. Desistiu da política? Não desisti, mas não me senti atraído para uma eleição a governador e também não teria votos suficientes para concorrer à Presidência. Achei melhor encerrar um ciclo e me preparar, me qualificar. Assim, daqui a quatro anos, posso avaliar se volto ou não. Enquanto isso, irei para a iniciativa privada. Como deputado, depois de tudo o que tive oportunidade de comandar, não teria o mesmo ímpeto agora. Usando uma frase do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), presidente da Câmara é igual a piano de cauda em caminhão de mudança. Quando chega à nova casa, nunca tem onde colocá-lo.

Para onde o senhor vai na iniciativa privada? Tenho dialogado com muitas pessoas, mas tomei a decisão de só aprofundar essas conversas depois da eleição. Ainda sou deputado, sou secretário do governador Rodrigo Garcia em São Paulo. Eu não posso, de forma nenhuma, criar algum tipo de conflito.

Há chance de assumir algum cargo na área econômica de um eventual governo Lula, como já foi cogitado recentemente até pelo ministro Paulo Guedes? Se ele está falando isso, é porque quer me queimar (risos). Não sei o motivo dessa raiva toda. Tudo o que ele fala que fez (no governo) fui eu que fiz. Sobre a questão de ser um ministro num futuro governo petista, nunca procurei esse objetivo e nunca fui procurado por Lula. Essa hipótese não está nos meus objetivos políticos. Tenho muita clareza do meu caminho no setor privado.

Publicado em VEJA de 28 de setembro de 2022, edição nº 2808

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