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A guerra de imagens da Coreia do Norte

O jovem e imprevisível ditador Kim Jong-un tenta intimidar os inimigos com vídeos toscos e fotos que lembram o realismo socialista dos anos trinta

Por Da Redação
3 abr 2013, 10h47

Na tentativa de intimidar inimigos externos e demonstrar poder para o público interno, a Coreia do Norte parece ter se inspirado no realismo socialista dos anos 1930 – a arte “patrocinada” (ou antes imposta) pelo regime soviético, que invariavelmente mostrava trabalhadores e soldados construindo unidos a sociedade do futuro. A retórica belicista norte-coreana, inflada desde as novas sanções aprovadas pela ONU contra o país, em resposta a um teste nuclear realizado em fevereiro, vem acompanhada por várias dessas imagens “realistas”.

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As fotos divulgadas pela agência estatal norte-coreana e distribuídas pelas agências internacionais têm como temática constante as inspeções feitas pelo ditador Kim Jong-un a fabricas e quartéis, militares em treinamentos e equipamentos de guerra. Todas as imagens mostram o contrario do que pretendiam – ou seja, que o poderio da Coreia do Norte não é tão ameaçador quanto Pyongyang tenta fazer crer.

Um artigo publicado pelo jornal The Washington Post chamou a atenção para a foto de uma visita de Kim Jong-un a uma unidade do Exército que estaria desenvolvendo tecnologia militar. “É possível que este computador – colocado em uma caixa de metal gigante bem retrô – faça algo extraordinário. Mas preste atenção à cadeira de sala de jantar, ao teclado e ao mouse Logitech. Nada disso grita ‘tecnologia militar avançada'”, diz o texto (leia a íntegra, em inglês).

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Além disso, algumas fotos não passam de montagens. Como a que mostra a chegada de embarcações e soldados em local não identificado do Norte. Um editor de fotografia da agência France-Presse disse ao jornal britânico The Telegraph que os barcos foram copiados e colados na imagem para dar a impressão de que são muitos. “Geralmente, um simples exame com nosso software descarta as fotos da (agência estatal) KCNA, mas eles estão ficando melhores com o Photoshop”, disse Eric Baradat.

Internamente, destacou a agência Associated Press, os norte-coreanos têm acesso a uma imagem mais leve do ditador, que é retratado como um jovem líder enérgico, do povo, um homem de família – ao lado da sorridente mulher, Ri Sol Ju.

Vale lembrar que depois da morte de Kim Jong-il, anunciada em dezembro de 2011, rodaram o mundo imagens igualmente ensaiadas da população chorando, desconsolada, a perda do “amado líder”. A escola norte-coreana de propaganda tem longa tradição.

Vídeos – Além das fotos, a guerra propagandística do governo de Kim Jong-un usa vídeos para indicar o que poderia fazer contra adversários. Na última montagem, o Exército do Norte invade Seul com milhares de paraquedistas e toma milhares de americano como reféns no sul a península. Nos vídeos anteriores, a ofensiva foi contra a Casa Branca, o Capitólio de Washington, ambos destruídos por mísseis, e Nova York, que aparece em chamas.

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Se depender dos efeitos especiais dos vídeos, o vizinho do Sul e os Estados Unidos não têm com o quê se preocupar. A guerra de palavras reforça as versões alucinadas da realidade, ao mirar alvos estratégicos nos EUA que a Coreia do Norte esta longe de poder alcançar.

Como sempre, ao longo das últimas décadas, os rugidos de rato de Pyongyang têm o objetivo de arrancar da comunidade internacional os recursos básicos – a começar por alimentos – de que o regime precisa para se sustentar. O realismo socialista das fotos e vídeos da Coreia do Norte é tao somente um motivo de piadas. O motivo de preocupação se encontra, infelizmente, no eventual irrealismo socialista de Kim Jong-un e seus generais, que podem, sim, causar danos reais à Coreia do Sul e talvez ao Japão – sem falar no dano profundo que continuam a causar à sua própria população.

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