Pezão: o sucessor de Cabral que escondeu Cabral para tentar se reeleger
Atual governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB) enfrenta o senador Marcelo Crivella (PRB) numa eleição marcada pela rejeição do eleitor aos candidatos
Depois de uma campanha que começou com quatro candidatos competitivos e foi marcada por intensa troca de acusações, as eleições no Rio de Janeiro terminam neste domingo com o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), discípulo de Sérgio Cabral (PMDB), favorito à reeleição. Segundo as últimas pesquisas, o peemedebista aparece à frente do senador Marcelo Crivella (PRB), líder da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd).
Se confirmada, a reeleição de Pezão significará um raro exemplo de virada no Estado: Cabral foi um dos principais alvos das manifestações populares iniciadas em junho do ano passado e deixou o governo em abril com elevada rejeição – o que fez a candidatura do sucessor demorar a decolar. Para superar a herança negativa, Pezão deixou o ex-governador escondido em uma eficiente campanha publicitária no rádio e na televisão.
Ex-prefeito de Piraí, uma cidade de 26.000 habitantes no sul fluminense, Pezão ocupava o quinto lugar na pesquisa Datafolha divulgada em 2 de dezembro do ano passado, com 5% das intenções de voto. Era outro cenário, no qual o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), o deputado Miro Teixeira (Pros) e o técnico da seleção masculina de vôlei, Bernardinho (PSDB), eram potenciais candidatos, o que não se concretizou. Na pesquisa seguinte, com as candidaturas efetivamente registradas, pesquisa publicada em 18 de julho mostrava Pezão ainda em terceiro lugar, com 14% das intenções de voto.
A provável virada do PMDB no principal Estado comandado pelo partido foi costurada nos bastidores por Cabral e só se tornou possível pela máquina peemedebista no governo estadual e nas prefeituras. Em troca do favorecimento de prefeitos aliados na distribuição de verbas e do loteamento político de secretarias estaduais, o PMDB assegurou a Pezão uma coligação de 18 partidos e o maior tempo de televisão – 8 minutos e 57 segundos.
O governador-candidato também aproveitou os dois principais palanques presidenciais. A direção regional do PMDB fechou uma aliança estadual com o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, no movimento batizado “Aezão”. O acerto fez com que o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) abandonasse a pré-candidatura ao governo – ele dividia votos na capital fluminense com Pezão, segundo pesquisas -, e levou ao embarque de DEM, PSDB e PPS na coligação liderada pelo PMDB. Embora Crivella, Lindbergh Farias (PT) e Anthony Garotinho (PR) também apoiassem a reeleição da presidente Dilma Rousseff, Pezão foi o candidato que mais fez atos de campanha com a petista e ainda se beneficiou do material publicitário espalhado por aliados do movimento “Aezão”.
Na TV, Pezão foi apresentado ao eleitor como um homem simples, interiorano e “boa-praça”, em campanha comandada pelo marqueteiro Renato Pereira. Demorou, mas a liderança veio a menos de dez dias do primeiro turno. Na pesquisa divulgada em 26 de setembro, Pezão ultrapassou Garotinho, que estava em primeiro lugar desde o início das sondagens no ano passado. O favoritismo do sucessor fez com que os gritos de “Fora, Cabral”, ecoados nas manifestações de rua, se tornassem um passado distante.
O peemedebista foi o principal alvo da ofensiva de adversários, mas elevou o tom dos ataques contra Crivella no começo do segundo turno. Nos debates e nos programas de televisão, o peemedebista insistiu em lembrar que o senador é bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e sobrinho do líder máximo da instituição, Edir Macedo.
A disputa acirrada não foi à toa. Mesmo favorito, Pezão sabe que as pesquisas passaram longe do resultado efetivo nestas eleições. Na sondagem de boca de urna do primeiro turno, Pezão tinha 36% dos votos válidos, enquanto Crivella estava em empate técnico com Garotinho, respectivamente com 22% e 25% dos votos válidos, com uma margem de erro de três pontos porcentuais para mais ou para menos. Mas o desempenho ao término da apuração foi bem diferente: Pezão teve 40,6% dos votos válidos, enquanto Crivella garantiu o segundo lugar com 20,3%, e Garotinho se despediu da disputa, com 19,7%.
Para vencer neste domingo, o candidato do PRB depende da herança dos votos de Lindbergh e Garotinho na reta final, que passaram a apoiá-lo no segundo turno, e da conversão de eleitores de Tarcísio Motta (PSOL). A candidatura de Crivella mostrou inédita resistência nesta eleição. É a segunda disputa do senador pelo Palácio Guanabara, mas é a primeira vez que ele não desidratou com a proximidade da votação. Em 2006, naufragou ainda no primeiro turno na disputa pelo governo, quando Sérgio Cabral e Denise Frossard (PPS) receberam mais votos. Também perdeu duas vezes as eleições para a prefeitura do Rio de Janeiro, em 2004 e 2008. Depois de uma campanha acirrada e esvaziada de propostas, o vencedor deste ano será como nunca um beneficiário da rejeição do eleitorado aos adversários.