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Zohran Mamdani chacoalha o Partido Democrata e vira favorito à prefeitura de NY

O sucesso do político reforça a influência de ala que vê em uma virada à esquerda o contraponto adequado ao radicalismo de direita dos republicanos

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 jul 2025, 08h00

Partido em pedacinhos e sem liderança clara, o Partido Democrata americano saiu da votação de novembro passado, depois da eleição de Donald Trump, desarticulado e sem rumo. Eis que de repente, no final de junho, em Nova York, abriu-se uma janela para o futuro: na cidade solidamente azul, a cor dos democratas, a primária para escolher o candidato do partido à prefeitura — favorito disparado à vitória — resultou no triunfo de Zohran Mamdani, um candidato diferente de tudo o que se viu por lá até hoje. Mamdani — ou Zohran, como é chamado — nasceu em Kampala, capital da Uganda, e mudou-se para os Estados Unidos aos 7 anos com os pais, imigrantes da Índia. É muçulmano praticante e defende abertamente a causa palestina, não poupando críticas ao governo de Israel pela crise humanitária em Gaza. Na legenda, integra a ala dos Socialistas Democratas da América, a mesma do senador Bernie Sanders e da incendiária deputada federal Alexandria Ocasio-Cortez, a AOC, apoiadora de primeira hora. Quer mais? Tem 33 anos e, se as previsões se confirmarem em novembro próximo, será o mais jovem prefeito da cidade em mais de um século.

VIÉS DE ALTA - Ocasio-Cortez em comício: incendiária da ala mais à esquerda
VIÉS DE ALTA – Ocasio-Cortez em comício: incendiária da ala mais à esquerda (Stephen Lam/San Francisco Chronicle/Getty Images)

Deputado estadual há cinco anos, Mamdani tinha menos de 1% das intenções de voto quando anunciou sua candidatura, em outubro. Disparado 30 pontos na frente estava o ex-governador Andrew Cuomo, 67, figurão do Partido Democrata que caiu em desgraça ao ser acusado de assédio sexual por onze mulheres. Cuomo planejava um retorno triunfal, mas na reta final foi atropelado pelo jovem desconhecido com metade da sua idade, por 56% a 44% dos votos. É bom que se repita: foi somente em uma primária, e ainda por cima em Nova York, que não é propriamente um espelho do país. Mas o sucesso de Mamdani reforça a influência da ala mais radical do Partido Democrata, que vê em uma virada à esquerda o contraponto adequado ao radicalismo de direita dos republicanos.

Contou pontos a favor do candidato a prefeito seu traquejo nas redes sociais. Em um de seus posts mais vistos, ele atravessa a pé os 21 quilômetros de Manhattan, parando para falar com moradores e representantes locais. Em vez dos batidos temas de segurança, trânsito e benesses sociais, Mamdani centrou sua mensagem em medidas para tornar Nova York, hoje caríssima, mais acessível (esta, a palavra-chave da plataforma) para seus moradores. “Trump, na campanha, falou muito do preço dos alimentos e do custo de vida. Mamdani é um dos poucos democratas que abordam isso de forma direta”, analisa Lincoln Mitchell, professor de políticas públicas da Universidade Columbia.

VIÉS DE BAIXA - Cuomo: derrota amarga e inesperada da velha guarda
VIÉS DE BAIXA - Cuomo: derrota amarga e inesperada da velha guarda (Michael M. Santiago/Getty Images)
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Entre as medidas que propõe estão ônibus grátis, o congelamento dos aluguéis em prédios subsidiados e a abertura de um mercado municipal com preços módicos em cada um dos cinco bairros que formam a cidade. O custo disso seria abatido por um imposto de 2% sobre a renda do 1% de moradores que ganham mais de 1 milhão de dólares por ano (“Acho que bilionários não deviam existir”, já declarou) e pelo aumento da alíquota máxima do imposto corporativo de 7,25% para 11,5%, igual à da vizinha Nova Jersey. “É um lunático 100% comunista”, torpedeou Trump. Nas redes, republicanos resgataram acusações de antissemitismo e sugerem que tenha a cidadania revogada (ele se naturalizou em 2018) e seja deportado.

Casado desde fevereiro com Rama Duwaji, 28 anos, ilustradora de origem síria, Mamdani terá como adversários o republicano Curtis Sliwa, pod­cas­ter de direita que fundou o Guardian Angels, grupo privado de segurança nas ruas, e o impopular prefeito Eric Adams, ex-democrata que disputa como independente (Cuomo cogita fazer o mesmo). Seus críticos o tacham de populista, inexperiente e radical demais para gerir uma cidade com orçamento de 115 bilhões e mais de 300 000 servidores públicos. Quando novembro vier, os eleitores darão seu veredicto — não será surpresa se o jovem político confirmar o favoritismo.

Publicado em VEJA de 4 de julho de 2025, edição nº 2951

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