Vitória contra o machismo: Claudia Sheinbaum triunfa no México
Uma mulher assume o comando da nação pela primeira vez na história

Conhecido pela cultura machista e patriarcal, o México, quem diria, está mudando. Depois de a Suprema Corte ampliar no ano passado de onze para todos os 31 estados a garantia de acesso ao aborto, agora é a vez de uma mulher assumir o comando da nação pela primeira vez na história. Na noite de domingo 2, em meio a gritos de “presidenta, presidenta”, Claudia Sheinbaum, 61 anos, celebrou no Zócalo, a praça principal da Cidade do México, a vitória com quase 60% dos votos, a maior porcentagem no período democrático do país (detalhe: sua grande adversária era outra mulher, Xóchitl Gálvez). Ex-prefeita da capital, neta de imigrantes judeus, divorciada e mãe de uma filha, Sheinbaum fez carreira aliando a discrição na vida pessoal a uma imagem de seriedade — é doutora em engenharia ambiental. Mas, para ganhar a eleição, o fator decisivo foi o apoio do atual presidente, Andrés Manuel López Obrador, o popular AMLO, seu padrinho político que, no último ano de governo, ostenta inabalável índice de aprovação na casa dos 65%. Os dois já bateram cabeça em algumas questões e a dúvida agora é se ela seguirá preservando o legado do mentor, um populista de esquerda com queda pelo autoritarismo, ou adotará medidas mais firmes e pragmáticas para lidar com os dois dramas mexicanos no momento: a violência dos cartéis de drogas e o mar de imigrantes que atravessam o país em direção à fronteira americana. Sheinbaum tem muitos desafios pela frente. Mas o grito contra o patriarcado foi dado.
Publicado em VEJA de 7 de junho de 2024, edição nº 2896