Vice de Trump faz discurso cheio de ataques e UE acusa EUA de ‘comprar briga’
Na Alemanha para fórum, JD Vance gerou desconforto ao confrontar políticas europeias, além de minimizar as ameaças russas

O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, surpreendeu a Conferência de Segurança de Munique, nesta sexta-feira, 14, com um discurso repleto de ataques a líderes europeus, questionando se os valores do continente ainda valem a defesa dos americanos e acusando a Europa de reprimir a liberdade de expressão, ignorar as preocupações populistas e falhar no controle da imigração. A União Europeia reagiu, acusando Washington de “comprar briga”.
“Se vocês têm medo das opiniões e da consciência do próprio povo, então não há nada que a América possa fazer por vocês”, declarou Vance diante de uma plateia chocada. Em vez de abordar temas urgentes de segurança, como a guerra na Ucrânia e as ambições expansionistas da Rússia e da China, ele focou em atacar políticas internas europeias. Para ele, a verdadeira ameaça ao Ocidente não vem de potências externas, mas do que chamou de “declínio dos valores fundamentais” do continente.
Vance também defendeu que a Europa pare de excluir políticos populistas. “Não temos que concordar com tudo ou qualquer coisa que as pessoas dizem, mas quando os líderes políticos representam um eleitorado importante, é nossa obrigação ouvir”, afirmou, criticando países que impõem barreiras a partidos ultraconservadores. Na Alemanha, há uma longa tradição de evitar alianças com a extrema direita da Alternative für Deutschland (AfD), devido às suas raízes nazistas.
Sobraram ainda críticas à postura europeia sobre imigração. Vance aproveitou um recente ataque na Alemanha – onde um imigrante afegão atropelou dezenas de pessoas – para reforçar sua retórica contra a imigração. “Quantas vezes devemos sofrer esses reveses antes de mudarmos de curso?”, questionou. Seus ataques coincidem com eleições na Alemanha e podem alimentar discursos da extrema direita.
O discurso inflamado gerou reações imediatas entre autoridades do continente. “Ouvindo esse discurso, parece que querem comprar uma briga conosco. Mas não queremos briga com nossos amigos”, rebateu a chefe de política externa da União Europeia, Kaja Kallas. Para ela, o vice-presidente americano e os demais aliados deveriam estar preocupados com questões mais urgentes, como a guerra na Ucrânia. Já o ministro da Defesa da Alemanha, Boris Pistorius, classificou as falas como “inaceitáveis” e negou que a Europa viva sob ameaça autoritária.
Pouco antes do discurso de Vance, o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, já havia alertado sobre o impacto das políticas de Donald Trump na democracia global. “Está claro que a nova administração americana tem uma visão de mundo muito diferente da nossa”, disse.
A televisão estatal russa celebrou a postura do vice-presidente americano. “Foi uma surra pública”, disse uma comentarista da Rossiya 1. As declarações de Vance evidenciam um abismo crescente entre EUA e Europa, não apenas em relação à guerra na Ucrânia, mas também no entendimento sobre democracia e valores.