Velório de Mujica começa nesta quarta-feira e será aberto ao público; veja detalhes
Cortejo partiu do edifício da Presidência do Uruguai em direção ao Palácio Legislativo, com paradas em sedes de movimentos dos quais ele fez parte

O velório do ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica, começa nesta quarta-feira, 14, em Montevidéu. A cerimônia fúnebre será aberta ao público e se estenderá por 24 horas, de forma que todos os admiradores consigam prestar suas últimas homenagens. Na véspera, Mujica morreu em decorrência de um câncer no esôfago, que sofreu metástase. Apenas um dia antes ao falecimento, sua esposa, a ex-vice-presidente Lucía Topolanski, informou que a doença havia atingido fase “terminal” e que seu marido estava em “cuidados paliativos”.
O funeral teve início às 10h, com um cortejo que partiu do edifício da Presidência do Uruguai. De lá, passará pelas sedes do Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T), grupo guerrilheiro que Mujica integrou, do Movimento de Participação Popular (MPP), único partido pelo qual foi filiado, e da Frente Ampla, coalizão de esquerda que englobava o MPP. A rota seguirá até o Salão dos Passos Perdidos do Palácio Legislativo, onde o corpo será velado a partir de 12h.
A diretora de Protocolo do Poder Legislativo, Andrea Barreto, disse à emissora uruguaia Teledoce que cumprirá o pedido de Topolansky de que todos “os uruguaios que quisessem vir se despedir pudessem fazê-lo da maneira mais confortável possível”.
“As pessoas poderão entrar pela Libertador a partir das 15h para prestar suas homenagens. O horário ainda não foi definido, mas queremos que seja o mais confortável possível para todos”, afirmou ela, destacando ainda que os portões do Palácio Legislativo “permanecerão abertos até que a família decida, até que eles queiram ter uma despedida mais privada”.
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Trajetória de Mujica
Filho de pequenos proprietários agrícolas, ele nasceu em Montevidéu e foi criado ao lado de tios peronistas e nacionalistas. Perdeu o pai cedo, aos 8 anos. Mais velho, passou a integrar a juventude do Partido Nacional (Blanco), mais conservador, ligado à causa rural. Chegou à faculdade, mas trocou os livros de direito — profissão que nunca chegou a pegar o diploma — pela guerrilha, unindo-se ao Movimento de Liberação Nacional-Tupamaros (MLN-T), fundado no contexto da Revolução Cubana de 1959.
Foi preso quatro vezes pela atuação política, a pior delas em 1972. No ano seguinte à prisão, Juan María Bordaberry implementou a Ditadura Militar no país. Mujica foi usado como refém do regime — caso os militantes passassem do ponto, Mujica pagaria o pato e seria executado como símbolo. No cárcere, foi torturado e isolado até 1985, quando foi solto após o fim do autoritarismo e a concessão da anistia.
Abandonou a luta armada e escolheu as urnas. Mujica ajudou a fundar o Movimento de Participação Popular (MPP), abraçado pela coalizão de esquerda Frente Ampla. Foi um legado e tanto, já que o partido, hoje, detém o maior número de deputados. Em 1994, foi eleito deputado federal por Montevidéu. Cinco anos mais tarde, chegou ao Senado e foi reeleito em 2004. No ano seguinte, foi convidado para ser ministro da Agricultura. Ficou por lá até 2008, quando voltou a ser senador para lançar-se à Presidência.
Mujica foi escolhido o candidato da Frente Ampla em 2009, pleito do qual saiu vencedor. Disputou com Luis Alberto Lacalle Pou, que viria a ser presidente de 2020 a 2025. No poder, registrou quedas nos índices de pobreza, ampliou programas sociais e aumentou salários. Não virou a face para temas polêmicos, e foi responsável pela legalização da maconha e do aborto, com direito à atendimento gratuito no sistema de saúde público. Além disso, reconheceu o casamento entre pessoas do mesmo sexo.