Velas despedaçadas: a tragédia da embarcação mexicana em Nova York
Havia 277 tripulantes a bordo do Cuauhtémoc, conhecido como o Cavaleiro dos Mares

É tragédia que cedo ou tarde vai parar nas telas de cinema, dada a improbabilidade e o drama. No sábado 17, uma embarcação de treinamento da Marinha mexicana que deixara o porto de Nova York a caminho da Islândia, e de lá para uma travessia pelo mundo, se chocou contra a Ponte do Brooklyn. Havia 277 tripulantes a bordo do Cuauhtémoc, conhecido como o Cavaleiro dos Mares. Com o choque, embora a mítica ligação de ferro e concreto nova-iorquina não tenha sido danificada, houve duas mortes e dezenove feridos a bordo. As vítimas: a cadete América Yamilet Sánchez, de 20 anos, e o marinheiro Adal Jair Maldonado Marcos, de 23. O impacto contra a ponte fez com que os três mastros desmoronassem. Não há detalhes precisos, com a investigação ainda em andamento, mas supõe-se que Sánchez e Marcos estivessem no topo das hastes de 48 metros de altura — o vão da ponte tem 41 metros de altura. Houve, é claro, uma sucessão de erros: o navio desviou de sua rota original e precisaria estar acompanhado de um rebocador. Os ventos e a correnteza daquela noite, ainda que inesperados, não justificam a barbeiragem. “O mar o viu nascer e o mar foi testemunha da sua morte”, disse um dos amigos de Marcos, cujo pai também fazia da navegação um estilo de vida e o ganha-pão. “Ela era uma guerreira, uma soldada que não se rendia”, afirmou a mãe de América Sanchez. O governo lamentou o acidente com o mítico veleiro, a singrar os mares desde 1982. Não terá, é claro, a dimensão histórica do Titanic — mas provocou comoção. E vale, para sublinhar o desastre, uma frase do filósofo Sêneca, de modo que possam seguir em frente: “Um timoneiro que se preza continua a navegar mesmo com a vela despedaçada”.
Publicado em VEJA de 23 de maio de 2025, edição nº 2945