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Vaticano devolve mais de 60 artefatos a indígenas do Canadá após luta por repatriação

Itens foram recebidos por lideranças inuítes e métis em Montreal. Reparação era promessa do papa Francisco e foi concluída por seu sucessor, Leão XIV

Por Flávio Monteiro
Atualizado em 8 dez 2025, 12h58 - Publicado em 8 dez 2025, 12h38

O Vaticano devolveu mais de 60 artefatos históricos a indígenas do Canadá no sábado 6, uma coleção que havia passado um século fora do continente americano e retorna à terra natal após uma longa campanha promovida por povos inuítes e métis para a repatriação dos itens.

Diversas lideranças indígenas se reuniram para receber os artefatos no Aeroporto Internacional Pierre Elliott Trudeau, em Montreal. A repatriação ocorre no contexto em que diferentes museus ao redor do mundo vivem sob pressão para devolver itens de suas coleções que possam ter sido roubados ou adquiridos de forma antiética.

“Estamos ansiosos para poder desembalar os itens nos próximos dias para que os especialistas inuítes entendam exatamente de quais locais eles vêm e compartilhar esse conhecimento não apenas com os inuítes canadenses, mas com o Canadá como um todo”, afirmou a repórteres Natan Obed, presidente da Inuit Tapiriit Kanatami, ONG que representa mais de 65 mil membros do povo originário.

Após a devolução, os artefatos serão examinados pelo Museu Canadense de História em Gatineau, nas proximidades de Ottawa, até que as lideranças indígenas definam novos lares para eles.

Acordo antigo

A devolução acontece mais de três anos após um encontro entre as lideranças nativas e o papa Francisco em Roma. Na ocasião, o sumo pontífice recebeu delegados das Primeiras Nações, Métis e Inuítes para conversar sobre os abusos históricos cometidos pela Santa Sé em missões no Canadá.

 

Meses após a visita, Francisco promoveu uma “peregrinação penitencial” em terras canadenses, onde pediu desculpas pelo “mal cometido por cristãos” contra os povos indígenas e garantiu a devolução do acervo — ela só seria efetivamente cumprida no mandato de seu sucessor, Leão XIV, que garantiu a execução do compromisso ao ordenar o retorno das peças em novembro deste ano.

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Doação?

A versão oficial do Vaticano afirma que os itens foram doados ao papa Pio XI na primeira metade do século XX, mas essa ideia é questionada pela população nativa e por historiadores. Especialistas apontam que o desequilíbrio do poder entre as partes era muito grande naquele período, fazendo com que a ideia de uma “doação de bom grado” seja duvidosa.

 

“É altamente questionável que isso tenha sido uma ‘doação’ significativa de itens”, afirmou o professor de história e estudos indígenas da Western University, Cody Groat, em entrevista à emissora americana CNN.

Na época das supostas doações, o Canadá colocava em prática uma política de assimilação forçada, que mais se assemelhava ao apagamento cultural, visando eliminar tradições indígenas. O governo recebeu apoio forte das ordens religiosas locais, que auxiliavam na imposição da política.

A legislação do período proibia a manifestação de práticas culturais nativas, determinava o confisco de itens utilizados em rituais espirituais indígenas e obrigava crianças indígenas a frequentarem “internatos” administrados pela Igreja para promover uma mudança cultural forçada. Décadas depois, em 2022, as ações vieram a ser definidas como “genocídio” por Francisco.

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Não há inventário público dos 62 bens repatriados, que incluem um caiaque de pele de foca Inuvialuit, originário do Ártico Ocidental. Mas eles representam uma pequena parcela dos milhares de objetos indígenas originários do período colonial que seguem sob posse da Igreja Católica.

“Já percorremos um longo caminho, mas ainda temos um longo caminho a percorrer”, resumiu a chefe nacional das Primeiras Nações, Cindy Woodhouse Nepinak, durante coletiva no sábado. Ela definiu o momento como “importante e emocionante”.

Os itens foram levados a Roma pela primeira vez em 1925, quando foram apresentados na Exposição das Missões do Vaticano. A mostra durou 13 meses e tinha objetivo de promover a influência da Igreja ao redor do globo, atraindo milhões de visitantes.

População nativa

Colonizado por europeus a partir do século XVI, o Canadá conta com uma população aborígene superior a 1 milhão de pessoas. Representando aproximadamente 5% de seus habitantes, os nativos são divididos em três grupos: os Inuítes, os Métis e as Primeiras Nações.

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  • Inuítes: mais conhecida entre as populações aborígenes, essa população habita o extremo norte canadense e representa 4% da população indígena canadense.
  • Métis: termo utilizado para se referir a comunidades de origem mista europeia e indígena. Estão presentes em quase todo o território canadense, principalmente nas planícies ocidentais.
  • Primeiras Nações: o termo é usado para indicar as populações canadenses que não são Métis ou Inuítes e habitavam aquele território antes da chegada dos europeus. No total, representam 49% da população aborígene canadense.

 

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