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“Uma resposta ao ódio”: o brasileiro-israelense à frente de projeto que acolhe órfãos de Gaza

Asi Garbarz, 38, fala da rotina no Gaza Children’s Village

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 25 out 2025, 08h00

Quando meu filho Lavi nasceu, em 1º de janeiro de 2024, me veio muito forte a ideia de que a existência dele jamais seria plena enquanto outros bebês, do lado de lá da fronteira de Israel, não estivessem igualmente seguros. A guerra na Faixa de Gaza já completava três meses, e milhares de crianças haviam morrido. Cada vez que chegava a notícia de mais uma, eu ficava sem ar. Não importa de onde venham: se são palestinas, israelenses ou de qualquer canto do planeta. Uma criança assassinada rouba um pouco do futuro das que permanecem. Com esse sentimento me juntei ao Gaza Children’s Village, projeto concebido por David Hasan, um médico americano da Universidade Duke, que conta com uma rede internacional de voluntários e doadores. A ideia é criar uma vila para acolher pelo menos 20 000 dos 56 000 que ficaram órfãos em meio ao conflito, em espaços de cura e reabilitação que já começaram a funcionar dentro de escolas antes do cessar-fogo. Agora, tudo se acelerou.

Como esperar não era opção, inauguramos a primeira instalação em abril de 2024, na região central de Gaza. Recebemos 1 500 crianças entre 4 e 17 anos, atendidas por lá em tempo integral. Chegam às 7h30 e saem às 18h30, retornando aos abrigos e campos de refugiados onde atualmente moram. Têm duas refeições quentes por dia, atendimento médico e psicológico. A educação gira em torno do essencial neste momento: a paz e a reconstrução da vida. Em Khan Younis, no sul de Gaza, outra escola passou a receber mais 1 500 alunos este mês e, se a trégua se mantiver, mais duas sairão em breve do papel. Ainda é pouco diante de toda a tragédia, cuja dimensão real só vamos conhecer mesmo daqui para a frente. Uma multidão de crianças foi deslocada e não podemos ajudar todas, mas, para cada uma que alcançamos, a diferença é entre desaparecer e viver.

Nada disso seria erguido sem lideranças locais de Gaza, em especial as mulheres. São elas que garantem proteção, alimentação e educação no contato direto com a garotada, já que nós, voluntários, ainda não temos acesso ao território. Eu organizo a iniciativa a distância, de onde moro perto da cidade de Haifa —, um trabalho diário e incansável feito em coordenação com o Exército israelense, que precisa autorizar a entrega de comida, remédio e material escolar. Não é sempre que conseguimos mandar caminhões com suprimentos. A instabilidade da trégua impõe suas barreiras. Mas estamos bem preparados para manter de pé o projeto — afinal, ele foi desenhado em tempos de conflito intenso. Dois meses atrás, uma bomba caiu sobre um acampamento de refugiados perto de nossa escola. Centenas de famílias ficaram sem nada em questão de segundos — comida, roupas, abrigo. E crianças passaram um longo período sem ter o que comer. Algumas carregam marcas permanentes da guerra: perderam braços, pernas, caminham mesmo sem as próteses, que não chegam. Não é exagero dizer que vivem em estado de trauma contínuo. Agora, têm uma chance de livrar a mente do medo, do terror e da dor.

Com as bombas ainda caindo, já chegaram a me perguntar: “E se os órfãos que vocês ajudam forem filhos de terroristas?”. Para mim, isso não importa. Crianças têm uma vida pela frente, por princípio, merecem viver. Meu pai saiu de São Paulo nos anos 1970 para morar em um kibutz em Israel, na busca do espírito comunitário que procuro transmitir a meninos e meninas de Gaza. Infelizmente, nosso orçamento ainda é pequeno e precisamos de mais para poder avançar e dar conta de tamanho drama humanitário — um cenário em que doações são muito bem-vindas. Estamos hoje às voltas com a criação de um novo hospital pediátrico dentro de Gaza, além das escolas. Sempre tive para mim que cada sala de aula aberta é como uma trincheira contra a morte, e cada criança acolhida, uma vitória contra o ódio.

Asi Garbarz em depoimento a Amanda Péchy

Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2025, edição nº 2967

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