Um chamado à ação: os recados e alertas da Semana do Clima em Nova York
Empresas, governos e especialistas de vários países, Brasil incluído, se reuniram nos EUA para acelerar a busca de soluções para as mudanças climáticas

De 21 A 28 de setembro, Nova York enviou uma mensagem ao mundo: a disposição de empresas, governos e organizações da sociedade civil em encontrar soluções para a crise climática não foi de forma alguma abalada pela aversão do presidente americano Donald Trump à agenda verde. Ao longo daqueles dias, a cidade mais rica do mundo sediou a 17ª Semana do Clima (oficialmente Climate Week NYC), concomitante com a realização da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Foi um período em que Nova York ferveu com a presença de dezenas de presidentes e primeiros-ministros, além de empresários, grandes executivos, investidores, acadêmicos e ambientalistas de diversos países.
Enquanto Trump subia à tribuna da abertura da Assembleia Geral para afirmar que a “mudança climática é a maior farsa já perpetrada no mundo”, a Semana do Clima se consolidava como o segundo maior encontro de escala global sobre o tema, perdendo apenas para as Conferências do Clima da ONU, as COPs, cuja edição deste ano será realizada em novembro em Belém (PA), no Brasil. Oficialmente, foram cerca de 900 eventos, muitos simultâneos, espalhados por Nova York, 300 a mais do que em 2024. Mas o número pode ser ainda maior, pois cada instituição privada ou pública organiza os seus próprios encontros e nem todos são registrados junto ao Climate Group, que consolida e divulga a programação da Semana do Clima.
Entre workshops, palestras e debates abertos ao público, também foram realizadas mesas de discussão temáticas fechadas, apenas para convidados. Nelas, representantes de algumas das maiores empresas americanas, incluindo redes varejistas e big techs, apresentavam propostas de descarbonização (redução das emissões dos gases causadores do efeito estufa) longe dos olhos e ouvidos da administração Trump, que tem se dedicado a atrapalhar os negócios de quem promove agendas ambientais, sociais ou de diversidade. Segundo o relato de um dos participantes dessas mesas-redondas, o setor privado dos Estados Unidos não desmontou seus projetos de sustentabilidade, apenas parou de divulgá-los e mudou o nome dos departamentos responsáveis por esse tema. O motivo é simples: essas empresas enxergam as mudanças climáticas como um risco para os seus negócios.

Com os ataques à agenda verde por parte do atual governo americano — que ameaça se retirar do Acordo de Paris, abandonando o esforço comum de cumprir metas para conter o aquecimento global —, o protagonismo da Semana do Clima em Nova York acabou sendo assumido pelo setor privado e por países emergentes. A China, por exemplo, em evento organizado pela ONU, anunciou pela primeira vez um plano detalhado para reduzir as emissões de gases do efeito estufa entre 7% e 10% até 2035. O governo brasileiro, por sua vez, apresentou o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF), para remunerar proprietários rurais e povos indígenas que mantiveram as matas intactas em suas terras, entre outras iniciativas.
As empresas brasileiras compareceram em peso na Semana do Clima, entre elas a Votorantim, a CItrosuco, a Natura e o Itaú. O presidente da JBS, Gilberto Tomazoni, participou de um painel sobre o desenvolvimento de tecnologias para transformar a agricultura e a pecuária com soluções amigáveis ao meio ambiente. Entre outras iniciativas, ele apresentou os Escritórios Verdes da JBS, que atuam para ajudar produtores menores a adotar padrões de sustentabilidade em suas atividades. “Também doamos 3 milhões de brincos para rastrear bovinos no Pará”, diz Tomazoni. Helder Barbalho, governador do estado, também esteve na Semana do Clima, onde falou em evento organizado pelo ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. Entre os participantes estava o ator Arnold Schwarzenegger, ex-governador da Califórnia. “O que se percebeu na Climate Week NYC foi uma continuidade real do engajamento das empresas, que chegam ao evento não apenas com intenções, mas com maior conhecimento, profundidade e maturidade das formas de endereçar as suas metas e compromissos de clima”, diz Malu Paiva, vice-presidente executiva de Sustentabilidade, Comunicação e Marca da Suzano, multinacional brasileira de papel e celulose.
Nos corredores, em almoços e salas de conferência dos diversos eventos, ouvia-se nas conversas entre os participantes que essa foi a melhor versão da Semana do Clima. E a despedida mais comum continha a saudação “nos vemos no Brasil”, em referência à COP30, que será realizada em Belém.
Publicado em VEJA de 3 de outubro de 2025, edição nº 2964