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Um ano depois do terremoto, vácuo político entrava reconstrução

Antes do terremoto que afetou 1,5 milhão de pessoas, país já tinha elevado índice de pobreza. ONU aponta avanços, mas ONG relata a miséria que ainda domina a região

Por Mariana Pereira de Almeida
9 jan 2011, 08h18

O terremoto que arrasou as áreas mais populosas do Haiti, incluindo a capital Porto Príncipe e seus arredores, completa um ano na próxima quarta-feira. Apesar de atuarem de forma conjunta, organizações não governamentais e a missão de paz da Organização das Nações Unidas (Minustah – ONU) têm opiniões opostas sobre a atual situação do Haiti. A ONU defende que a ilha caribenha está muito melhor do que há um ano. Já a ONG britânica Oxfam divulgou um relatório pessimista. Num país que mesmo antes da tragédia já estava mergulhado numa miséria abissal, as duas visões estão corretas, e esse é o terrível paradoxo: qualquer coisa que se faça é muito, e é também muito pouco. ONU e Oxfam concordam num único ponto: os esforços humanitários são paralisados pela ausência de uma liderança política legítima.

Divulgado na última quinta-feira, o relatório da Oxfam revelou que perto de 1 milhão de pessoas ainda estão desalojadas, menos de 5% do entulho foi removido e apenas 15% das habitações temporárias necessárias foram construídas.

É fato que a recuperação do Haiti enfrentou vários obstáculos nesse período. Além das consequências provocadas pela própria tragédia, a reconstrução do país mais pobre das Américas foi retardada por uma epidemia de cólera, pela passagem de um furacão e por um cenário de indefinição política, diante de um complicado processo eleitoral que ainda se arrasta.

As organizações não governamentais reconhecem essas dificuldades, mas fazem críticas. “Apesar de não ser surpreendente, o tímido progresso é extremamente desapontador para os haitianos, cujas expectativas eram de uma melhora no país e em suas vidas”, destaca o relatório da Oxfam.

Já as forças de paz da ONU – que mantêm no Haiti 24 contingentes, com cerca de 8.700 militares de 19 países – alegam que houve um progresso significativo para um país cujo índice de pobreza já era altíssimo – 67% da população vivia com menos de dois dólares por dia antes da tragédia.

“Diante dos desafios que ocorreram após o terremoto, a reconstrução avançou. Não progrediu tanto quanto desejávamos pois queríamos mais rapidez na construção de residências e na recuperação da infraestrutura. Porém, os desafios foram enormes”, disse ao site de VEJA o general brasileiro Luiz Guilherme Paul Cruz, comandante da Minustah desde de abril do ano passado por indicação do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

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O porta-voz dos Batalhões Brasileiros no Haiti (Brabat, na sigla em inglês), Adilson Akira Torigoe, questiona os números divulgados pela Oxfam. “É muito difícil calcular o quanto já foi feito na reconstrução. Eu já ouvi diversos índices. Além disso, existem milhares de ONGs atuando no Haiti, a Oxfam é apenas uma delas. Não sei que metodologia os pesquisadores utilizaram”, disse.

De acordo com Paul Cruz, desde 12 de janeiro de 2010, a população vem recebendo atendimento médico, alimentos e abrigos, ainda que provisórios. As forças brasileiras, que têm o maior contingente da missão, relatam que há cerca de 860 campos para desabrigados apenas na capital haitiana e os mais populosos têm até 60.000 pessoas. Entre os avanços na infraestrutura, o general cita a reconstrução de um pedaço da malha viária, a abertura de canais de proteção contra inundações, a reativação do porto e do aeroporto da ilha.

Os entraves – Um dos motivos para a recuperação no Haiti não ser mais rápida do que isso é que grande parte da estrutura e dos servidores que trabalhariam na reorganização do país desapareceu nos escombros do terremoto. “A estrutura que gerenciava o país se foi. Por exemplo, o Palácio Presidencial ruiu e o ministério da Justiça desabou, matando diversos magistrados. A estrutura governamental ficou debilitada”, afirmou Valdir Campelo Junior, coronel de um dos dois batalhões brasileiros.

Os militares, que trabalham para reforçar a segurança e garantir a estabilidade na ilha, apontam ainda barreiras relacionadas a saneamento básico, combate a doenças, indicadores sociais e econômicos. Exemplos disso são a epidemia de cólera, que matou 3.650 pessoas e infectou 171.304; o furacão Tomas que atingiu o país em novembro, deixando pelo menos mais 20 mortos e debilitando ainda mais a infraestrutura do país; e uma eleição presidencial, cujo resultado ainda é indefinido, provocando incerteza e explosões de violência na ilha.

“É necessário ter um governo legítimo que possa conduzir a reconstrução. Sem isso, não se pode acreditar que os projetos apresentados pela comissão interina se concretizem”, explicou o general Paul Cruz. “Os países que aportam uma quantidade significativa de recursos precisam saber quem será o seu interlocutor”.

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O terremoto – Às 16h53 do dia 12 de janeiro de 2010, um terremoto de 7,3 graus na escala Richter sacudiu o Haiti por 35 segundos. O epicentro do tremor – considerado o mais forte no país em 200 anos – foi próximo à cidade de Léogâne, 17 quilômetros a sudoeste de Porto Príncipe. O abalo destruiu 80% da cidade e danificou seriamente a capital e sua região metropolitana.

De acordo com o governo haitiano, o impacto do terremoto em uma nação onde o índice de pobreza era extremamente elevado foi devastador.

Cerca de 1,5 milhão de pessoas – 15% da população – foram diretamente afetadas. Mais de 220.000 perderam suas vidas e 300.000 ficaram feridas. Milhares de habitantes precisaram de ajuda psicológica e aproximadamente 1,3 milhão foram deslocadas para abrigos provisórios nos arredores da capital.

No que se refere à infraestrutura, 105.000 casas foram completamente destruídas, 208.000 danificadas, 1.300 estabelecimentos educacionais e mais de 50 centros de saúde ruíram, ficando inutilizáveis. O Palácio Presidencial, o Parlamento, as cortes de Justiça e a maioria dos ministérios também desabaram.

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