Um investimento equivalente a 20 bilhões de dólares. Extensão de 55 quilômetros, quatro vezes a da Ponte Rio-Niterói. Dezenove oficiais processados por corrupção e pelo menos dez operários mortos ao longo dos nove anos de construção. Os números da maior ponte do mundo mostram que ela só poderia mesmo ter sido erguida na China. A Via Hong Kong-Zhuhai-Macau, inaugurada na terça-feira 23, liga o continente chinês a dois ex-territórios europeus. O primeiro é Hong Kong, governado pela Inglaterra até 1997 e atualmente um irradiador de dores de cabeça para o Partido Comunista em Pequim. Tem uma Justiça independente, imprensa livre e jovens querendo eleger os próprios representantes. O segundo é Macau, colônia portuguesa até 1999 e onde atualmente se podem encontrar pão, café e cassinos lotados de chineses endinheirados. Na chamada Vegas da Ásia, pouquíssimos são os que ainda falam português. E quase não dá para entendê-los. Com a obra de infraestrutura, Pequim espera conter os ímpetos democráticos de Hong Kong e, ao mesmo tempo, estimular a economia de Macau. A ponte é uma proeza de encher os olhos. Como os motoristas de Hong Kong dirigem pelo lado esquerdo — herança do domínio inglês —, a via tem diversos pontos para permitir que eles cruzem para o outro lado sem bater de frente com outro veículo. Além disso, ela submerge no mar e vira um túnel de 6,7 quilômetros entre duas ilhas artificiais, para possibilitar a passagem de grandes navios. Parece uma serpente que mergulha no oceano e volta à tona mais adiante.
Publicado em VEJA de 31 de outubro de 2018, edição nº 2606