Última reunião do papa Francisco colocou vice de Trump em saia-justa
Católico recém-convertido, J.D. Vance viu o pontífice no domingo

O papa Francisco faleceu aos 88 anos nesta segunda-feira, 21, poucas horas após aparecer em público para proferir sua tradicional bênção de Páscoa na Praça de São Pedro. Mais cedo no mesmo dia, ele se reuniu brevemente com o vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance. O encontro privado, o último de seu pontificado, ocorreu na Domus Santa Marta, a casa de hóspedes do Vaticano onde residia.
“Sei que você não tem se sentido bem, mas é bom vê-lo com melhor saúde”, disse Vance ao Santo Padre. “Obrigado por me receber.”
O papa presenteou o vice-presidente católico com três grandes ovos de Páscoa de chocolate — um para cada um de seus filhos — juntamente com uma gravata do Vaticano e rosários.
“Rezo por você todos os dias”, afirmou Vance ao se despedir. “Que Deus o abençoe.”
Depois do encontro com Francisco, Vance participou da Missa de Páscoa com sua família na Basílica de São Paulo e visitou o túmulo que se acredita pertencer ao apóstolo Paulo.
Tudo muito bem, obrigado. Exceto que a reunião ocorreu após um conflito entre o papa e o vice americano sobre a política de imigração dos Estados Unidos. Francisco, que há muito tempo defende os direitos dos imigrantes, censurou duramente os planos de deportação em massa do governo de Donald Trump. Segundo ele, as medidas anunciadas por Washington roubam a dignidade. O pontífice também enviou uma carta aos bispos dos Estados Unidos que fez críticas veladas a Vance, porque o vice-presidente americano citou doutrinas católicas para justificar sua política de deportação.
Além disso, mais cedo no domingo, a mensagem de Páscoa do Papa, conhecida como a bênção Urbi et Orbi, pediu paz em conflitos globais, particularmente na Ucrânia e em Gaza, campos onde o presidente americano mete o dedo com aparente despreocupação com as consequências – ao acenar para a invasora Rússia e apoiar Israel irrestritamente enquanto civis palestinos vivem uma crise humanitária.
“Não pode haver paz sem liberdade religiosa, liberdade de pensamento, liberdade de expressão e respeito pelas opiniões dos outros. Que grande sede de morte, de matar, vemos nos muitos conflitos que assolam diferentes partes do mundo”, disse a mensagem, lida por um clérigo ao lado de Francisco.
Falando diretamente sobre a crise em Gaza, o papa afirmou que a guerra “causa morte e destruição” e descreveu uma “situação humanitária deplorável”.
Voltando-se para a guerra no Leste Europeu, onde o governo Trump negocia um acordo visto com desconfiança pelo resto do mundo por indicar várias concessões à Rússia, ele fez um apelo: “Que Cristo ressuscitado conceda à Ucrânia, devastada pela guerra, seu presente pascal de paz, e incentive todas as partes envolvidas a prosseguirem seus esforços para alcançar uma paz justa e duradoura.”
Vance, convertido ao catolicismo desde 2019, reconheceu a desaprovação do papa, mas não sinalizou intenção de mudar de rumo. No Café da Manhã Nacional de Oração Católica em Washington, em 28 de fevereiro, Vance se referiu a si mesmo como um “católico bebê”. “Há coisas sobre a fé que eu não sei”, admitiu.