Ucrânia e Rússia travam guerra de imagem e comunicação
Enquanto Facebook e Twitter bloquearam publicações russas, Putin e Zelensky travam embates indiretos pela forma de se vestir e de se comunicar

Entre trincheiras, bunkers e campos de batalha, a Guerra da Ucrânia vem sendo travada em outros frontes fundamentais em qualquer entrevero: a do campo da informação. Nesta sexta-feira, 4, o parlamento russo decidiu bloquear o Facebook e o Twitter no país, depois de as empresas bloquearem canais russos de informação ou deixarem claro de onde vêm as notícias, com a sinalização de que as fontes são ligadas ao Kremlin. A Meta, empresa que controla o Facebook, também decidiu limitar a monetização de publicações da Rússia. A companhia proibiu propaganda russa para qualquer usuário no mundo.
Na quarta-feira 2, a Rússia admitiu, pela primeira vez, a morte de 498 soldados no carnaval fascista de Vladimir Putin no país. Em paralelo, o assessor militar da presidência da Ucrânia, Oleksiy Arestovich, usou as câmeras para divulgar que, pelas contas do país, mais de 7 mil soldados de Putin morreram na incursão. O jornal americano The New York Times fez um balanço mais sólido — e mais distante da propaganda —, apontando entre 2 mil e 3 mil baixas no exército russo. Os números são relevantes. Afinal, não é só com balas e bombas que se ganha uma guerra.
Ex-astro de televisão, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, tem usado como trunfo a comunicação e as imagens de resistência — e, ressalte-se, agindo com coragem, sendo ovacionado no Parlamento Europeu. “Zelensky transmite, pela escolha de uso de cores e roupas, a imagem de que está preparado para lutar contra as investidas russas. Isso porque a cor verde está associada à vegetação, o que confere mais facilidade de camuflagem, por isso utilizadas em muitos serviços militares”, diz Gabriela Garvares, estrategista em imagem. Para ela, a aparição perante o público de camiseta verde-oliva com insígnias ucranianas e trajes militares — diferentemente do uso de roupas formais — mostra a penetração do líder no cotidiano da população, fato que gerou repercussão positiva para mais de 90% da população do país.
Em paralelo, a Rússia — vista corretamente como pária perante o mundo — usa de artifícios democraticamente questionáveis para impor sua visão. Aparecendo sempre distante, de terno e dando ordens em público, Putin tenta demonstrar autoridade. O autocrata determinou o fechamento dos poucos veículos russos não ligados ao Kremlin e a proibição da disseminação do que considera “notícias falsas” e proibiu o termo “guerra” nas publicações. Em resposta, redes sociais como o Twitter baniram veículos como o Russian Times, com influência total do poder público russo, de sua plataforma — medida, também, vista como de cunho discutível. “É lícito alguém que se define como um palco determinar o que atores fazem neste local? O que Putin faz é execrável, mas quem define o que é verdade? Creio que a melhor regulação para a mentira seja a verdade, não a proibição”, diz Daniel Domeneghetti, sócio da Consulting Corp, empresa em consultoria para internet e mídia.
O estrategista chinês Sun Tzu (544 a.C. – 496 a.C), autor do clássico A Arte da Guerra, definiu como poucos a assimetria da informação como artifício para sair vitorioso de uma batalha. “Quando capaz, finja ser incapaz; quando pronto, finja estar despreparado; quando próximo, finja estar longe; quando longe, façam acreditar que está próximo”, escreveu. A disseminação de informações e narrativas é tão premente quanto a batalha em si, o que ganha novos contornos em uma guerra travada em tempo real nas redes sociais e na televisão, e com a cobertura da imprensa tradicional.