TV russa anuncia ‘sitcom’ em que Joe Biden é personagem principal
Kremlin direciona orçamento generoso a produções culturais usadas para propagar as visões do Kremlin, incluindo justificar a guerra na Ucrânia
O canal russo de entretenimento TNT divulgou, na terça-feira 27, uma nova série de comédia, ou sitcom, que terá como personagem principal o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. A produção faz parte de um rol crescente de produtos culturais que o Kremlin usa para propagar as visões do governo de Vladimir Putin.
A TV afirmou que já deu início às gravações de “Goodbye” (“Adeus”, em tradução livre), cuja trama se centra num futuro em que o chefe de Estado já está aposentado e embarca em uma viagem à Rússia para descobrir, por conta própria, por que as sanções dos Estados Unidos não conseguiram afetar a economia local.
De acordo com o roteiro da nova série, escondendo sua verdadeira identidade, o americano perde o passaporte em seu primeiro dia na Rússia e, ao invés de ser resgatado pelos agentes da Casa Branca, é esquecido por lá. De repente, se vê obrigado a morar em um conjunto habitacional dos tempos soviéticos e ensinar inglês aos locais para ganhar dinheiro para sua viagem de volta à América. Um “patriota russo dedicado” o ajuda nessa missão.
Em comunicado à imprensa, o TNT diz que o Biden fictício quer “submergir em nossa realidade” e “entender a alma russa”. Ele será interpretado por Dmitri Dyujev, que disse ver o papel como uma oportunidade de “abrir novos caminhos”. O ator está na lista de sanções da Ucrânia e do Canadá.
Estratégia de política interna
O programa, que tem estreia marcada para 2025, não é mera criação dos russos interessados em política global: uma série de documentos conhecidos como “Vazamentos do Kremlin” mostrou ligações entre a Presidência da Rússia e projetos de cinema e TV projetados para levar narrativas propagadas por autoridades de Moscou para dentro das casas da população.
Segundo reportagem do portal russo Meduza, banido da Rússia, o Kremlin destinou um orçamento generoso para a elaboração de produções culturais que reflitam as visões do atual governo russo, de preferência de forma velada.
Em março, por exemplo, a TV russa lançou uma série fictícia que mostra uma versão alternativa da revolução Maidan na Ucrânia, de 2013 e 2014, que o Kremlin descreve como um golpe de estado patrocinado pelos Estados Unidos, na tentativa de justificar sua invasão em grande escala ao país vizinho em fevereiro de 2022.
Na época, o movimento levou à queda do presidente pró-Rússia Viktor Yanukovich, que hoje está abrigado em solo russo.