Trump volta a defender Bolsonaro e diz que Brasil é ‘péssimo parceiro comercial’
Declaração ocorre em meio à deterioração das relações entre os EUA e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, definiu nesta quinta-feira, 14, o Brasil como um “péssimo parceiro comercial” e disse que o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é uma “execução política”. A declaração ocorre pouco mais de uma semana após o início das tarifas americanas de 50% sobre produtos brasileiros devido à “caça às bruxas”, como definiu Trump, do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do Supremo Tribunal Federal (STF) contra Bolsonaro.
“O Brasil tem sido um péssimo parceiro comercial em termos de tarifas — como você sabe, eles nos cobram tarifas enormes, muito, muito maiores do que as que nós cobramos, e, basicamente, nós nem estávamos cobrando nada”, afirmou o republicano a repórteres na Casa Branca. “Eles cobram tarifas enormes e tornaram tudo muito difícil de fazer. Então, agora estão sendo cobrados 50% de tarifas, e não estão felizes, mas é assim que funciona”.
Dados da Amcham, a Câmara de Comércio americana, porém, revelaram que no período que antecipou o tarifaço, as exportações do Brasil para território americano entre janeiro e julho registraram crescimento de 4,2% sobre o mesmo período de 2024, somando US$ 23,7 bilhões (R$ 128,27 bilhões, na cotação atual), o maior valor já registrado para o período.
Segundo edição especial do Monitor do Comércio Brasil-EUA, elaborado pela Amcham, as importações também avançaram, com alta de 12,6%, alcançando US$ 26,0 bilhões. Isso ampliou o superávit americano no comércio com o Brasil para US$ 2,3 bilhões no acumulado do ano, uma expressiva alta de 607,9% frente ao mesmo período de 2024. O resultado sustenta a tendência de vantagem americana nos negócios com o Brasil, que há 15 anos têm déficit na balança comercial com os Estados Unidos.
Em defesa a Bolsonaro
O republicano também alegou que o “Brasil tem algumas leis muito ruins” e voltou a defender o ex-presidente brasileiro: “Quando eles pegam um presidente e eles o colocam na prisão ou estão tentando prendê-lo. Eu conheço esse homem e vou lhe dizer — eu sou bom em avaliar pessoas: acho que ele é um homem honesto. Acho que o que fizeram é uma coisa… Isso é realmente uma execução política que estão tentando fazer com o Bolsonaro”, disse Trump.
O líder americano foi questionado sobre a aproximação do Brasil a outros países, como a China, para uma reação conjunta às tarifas. Em resposta, ele disse “não estar nem um pouco preocupado”, acrescentando: “Eles podem fazer o que quiserem. Nenhum deles está indo muito bem, estamos melhores do que eles. O que estamos fazendo, em termos econômicos, é acabar com todos eles, incluindo a China”.
Pouco antes dos comentários do republicano, Lula disse que o governo Trump “fez uma insensatez com o Brasil” ao impor tarifas e sanções contra o país. Os dois têm trocado críticas desde julho, quando Trump publicou uma carta endereçada a Bolsonaro, reforçando críticas à Justiça brasileira e um suposto “regime de censura”. Segundo escreveu, o governo brasileiro realiza “ataques à liberdade de expressão, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos”. O líder americano também pediu o fim “imediato” do julgamento do ex-presidente brasileiro.
Bolsonaro está inelegível por 8 anos, por duas condenações no Tribunal Superior Eleitoral, por abuso de poder e uso indevido de meios de comunicação, ao atacar as urnas eletrônicas durante a eleição de 2022, sem provas concretas.
Tensões em alta
As tensões entre Brasil e EUA atingiram o ápice no final de julho, quando Trump sancionou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), pela suposta perseguição a Bolsonaro e assinou um decreto que implementa as tarifas de 50% contra o Brasil. Para ampliar o cerco contra Moraes, o republicano acionou a Lei Magnitsky, usada para punir estrangeiros acusados de violações graves de direitos humanos ou de corrupção em larga escala.
Para além da parte da história que envolve Bolsonaro, Moraes também virou alvo da Casa Branca devido ao que chama de “censura” a conteúdos publicados pela plataforma de vídeos online Rumble e da Trump Media, empresa do presidente Trump. Ambas acusam o ministro de violar a Primeira Emenda da Constituição americana, que garante a liberdade de expressão, ao ordenar a remoção de contas de influenciadores brasileiros de direita na plataforma.
As remoções ocorreram no âmbito do inquérito das fake news do STF contra perfis que espalham desinformação. Antes disso, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, já havia cancelado os vistos do ministro do STF, seus familiares e aliados. Moraes, no entanto, estava com o visto americano vencido há dois anos e não havia optado pelo processo de renovação.