Trump recebe presidente da África do Sul após acusá-lo de cometer ‘genocídio contra brancos’
Escalada das tensões atingiu pico após promulgação de lei sul-africana de desapropriação de terras; norma, segundo Trump, é uma forma de racismo reverso

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, receberá nesta quarta-feira, 21, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, em meio à escalada das tensões entre os países devido a uma lei sul-africana de desapropriação de terras, promulgada em janeiro. A norma, segundo o republicano, é uma forma de racismo reverso. Sem provas, Trump também acusou Ramaphosa de cometer “genocídio contra brancos”.
Na África do Sul, a desapropriação é considerada legítima desde 1975. As novas regras são, então, uma atualização do texto de 50 anos, que permite que terrenos recebam funções públicas. A polêmica recente, que impulsionou as críticas de Trump, está relacionada a possibilidade de que os donos não recebam compensações em casos raros desde que o governo avalie que o local foi abandonado ou usado para especulação.
A legislação foi aprovada em meio à progressiva fragilização das relações entre os dois países. No ano passado, durante a administração de Joe Biden, a África do Sul apresentou um caso de genocídio contra Israel, aliado dos EUA, à Corte Internacional de Justiça (CIJ), das Nações Unidas. O tribunal em Haia, por sua vez, ordenou que Tel Aviv, forte aliado de Washington, tome medidas para prevenir e punir a incitação direta ao genocídio e conter mortes e danos na sua ofensiva militar.
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Trocas de farpas
Em fevereiro, os Estados Unidos cortaram parte do financiamento à África do Sul. No mês seguinte, Washington declarou o embaixador sul-africano persona non grata e expulsou o diplomata do país. Na semana passada, o governo americano concedeu status de refugiado a 59 sul-africanos brancos por supostamente estarem sofrendo perseguição racial.
“O mundo inteiro sabe que não há perseguição a nenhuma raça específica na África do Sul. Portanto, não precisamos nos esforçar para dissipar algo que sabemos que não existe”, disse Vincent Magwenya, porta-voz da Presidência da África do Sul, à agência de notícias estatal SAnews. “Claramente (a acusação de Trump) é uma questão que precisa ser abordada. E será abordada. Mas o presidente não planeja gastar muito tempo com isso.”
Além disso, Magwenya adiantou que o país procura “engajamento aberto e construtivo” com os Estados Unidos, com foco nas relações comerciais, e disse que a delegação buscará “resolver quaisquer questões preocupantes que possam existir”. Em contrapartida, um assessor americano relatou à agência de notícias Reuters que Trump pretende demandar que empresas dos EUA na África do Sul sejam isentas de leis que determinam a participação acionária de grupos desfavorecidos, como pessoas negras, de pelo menos 30%. A legislação faz parte da política econômica sul-africana pós-apartheid, regime de segregação racial institucionalizado na África do Sul entre 1948 e 1994.