Trump inaugura ‘Alcatraz dos jacarés’, prisão para imigrantes cercada de animais selvagens
Novo centro de detenção na Flórida já é alvo na justiça de grupos de direitos humanos e ambientalistas
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1 jul 2025, 08h26
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comparecerá à inauguração nesta terça-feira, 1º de julho, de um novo centro de detenção para imigrantes nos Everglades, na Flórida, que foi apelidado de “Alcatraz dos jacarés”. Um projeto liderado por líderes republicanos do estado, a prisão ficará em um pântano quente, cercado por animais selvagens, e tem enfrentado forte resistência de democratas, povos indígenas, ambientalistas e grupos de direitos humanos.
O novo centro foi idealizado pelo procurador-geral da Flórida, James Uthmeier, e entrou para os holofotes após uma entrevista na emissora Fox News com o governador do estado, Ron DeSantis, aliado do presidente, na última sexta-feira. Ele descreveu a iniciativa como um esforço para alinhar as políticas estaduais à agenda linha dura da Casa Branca contra imigrantes. A decisão de Trump de comparecer pessoalmente, ao lado da secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, ao evento de inauguração, indica que o governo federal deve direcionar fundos ao projeto – e amplia a influência política de DeSantis.
“Quando o presidente vier amanhã, ele poderá ver a instalação, que deve estar pronta para operar já na terça-feira”, disse DeSantis em entrevista coletiva na segunda-feira 30. O governador acrescentou que conversou com Trump no fim de semana e que ele está “muito animado”.
Na semana passada, Noem escreveu em postagem no X (antigo Twitter), que o governo está concentrado em expandir “maneiras inovadoras e com bom custo-benefício para cumprir a promessa ao povo americano sobre deportações em massa de imigrantes ilegais criminosos”, elogiando a iniciativa da Flórida pela possibilidade de expandir instalações de detenção “em poucos dias”.
Críticas e resistência
Figuras do Partido Democrata e grupos defensores de imigrantes vem criticando o projeto, que consideram “desumano”. Entre os argumentos contrários está o fato de que estrangeiros em situação irregular ficariam detidos no meio de um pântano cercado por cobras e jacarés, em meio ao calor da Flórida — e em uma área do estado propensa a furacões.
Mas os republicanos usam os mesmos argumentos para defender a iniciativa: as condições adversas servirão, segundo eles, como um impedimento para que imigrantes sem documentos venham para a Flórida.
“Eles não vão ficar presos em uma (área propensa a) furacão se eles se autodeportarem”, disparou Bill Helmich, diretor executivo do Partido Republicano da Flórida, em postagem no X, referindo-se ao incentivo do governo federal para que imigrantes irregulares deixem o país voluntariamente.
Grupos ambientalistas entraram com uma ação na Justiça contra a instalação na sexta-feira.
“Este local é composto por mais de 96% de áreas úmidas, cercado pela Reserva Nacional Big Cypress, e é habitat da pantera-da-flórida, espécie ameaçada de extinção, e de outras espécies icônicas”, disse Eve Samples, diretora executiva da ONG ambientalista Friends of the Everglades, em comunicado. “Este esquema não é apenas cruel, como também ameaça o ecossistema dos Everglades, que os contribuintes estaduais e federais gastaram bilhões para proteger.”
Aparentemente, não existe mesmo má publicidade. A controversa prisão provocou uma explosão de atenção da mídia nacional para os líderes republicanos da Flórida e a um aumento nas contribuições de campanha, uma dinâmica que levou o Partido Republicano estadual a começar a vender produtos com o slogan “Alcatraz dos jacarés” para aproveitar o momento.
O governo DeSantis usou seus poderes emergenciais para acelerar a construção da instalação, que custa US$ 450 milhões por ano e que, segundo ele, terá capacidade para abrigar até 3 mil imigrantes. Todo o complexo foi construído em apenas sete dias, um processo que incluiu a apreensão de terras pertencentes ao Condado de Miami-Dade, apesar das objeções dos líderes locais. A instalação ficará perto de uma pista de pouso pouco utilizada, que, segundo DeSantis, pode ser usada para deportações.
Os democratas do estado, que são minoria, tem levantado a voz contra o plano, embora figuras de alcance nacional tenham mantido relativo silêncio.
“Eles vão trancar pessoas em um pântano sob calor extremo, sem um plano claro para condições humanas”, criticou a senadora estadual Shevrin Jones.
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