Trágica implosão do OceanGate mostrou fascínio duradouro pelo Titanic
Passada a tragédia, de difícil cicatrização, a empresa suspendeu as operações
As operações da startup americana OceanGate, tal qual os voos espaciais oferecidos por companhias privadas, pareciam passatempo para bilionários. A ambição: chegar o mais próximo possível dos destroços do Titanic, que há 111 anos repousam no fundo do Atlântico Norte, à margem do Canadá. A magnética atração pelo transatlântico que afundou depois de se chocar contra um iceberg alimentou livros, documentários e o celebradíssimo filme dirigido por James Cameron, com Leonardo DiCaprio e Kate Winslet. A OceanGate oferecia um inigualável passeio debaixo d’água a bordo do Titan — a 250 000 dólares por passageiro, mais de 1 milhão de reais —, capaz de beijar os confins do mar. Em junho, contudo, um dos mergulhos do submersível ganhou contornos dramáticos. A embarcação perdeu o contato com a superfície momentos depois do início da viagem. O mundo parou para acompanhar a triste aventura enquanto as equipes de resgate corriam contra o tempo. Foi um daqueles casos que despertam empatia coletiva, a exemplo da atenção planetária com os mineiros presos numa mina em San José, no Chile, em 2010, e o grupo de meninos presos numa caverna na Tailândia, em 2018. A história do Titan, porém, teve final infeliz. A bugiganga implodiu momentos depois de submergir, matando os cinco ocupantes instantaneamente, inclusive o fundador da OceanGate, Stockton Rush, o piloto da travessia malsucedida. As investigações sobre a causa exata do acidente ainda não foram concluídas, mas especialistas indicam uso de equipamento com resistência inadequada para aguentar a pressão em grandes profundidades. Passada a tragédia, de difícil cicatrização, a empresa suspendeu as operações. Mais do que escancarar a ignorância humana sobre o fundo do oceano, do qual sabemos muito pouco, o caso do Titan, insista-se, só fez crescer o interesse pelo Titanic e pela imensidão azul. Vale relembrar uma frase de Jacques Cousteau (1910-1997), um dos primeiros a jogar luz nas profundezas do mar sem fim: “Desde o nascimento, o homem carrega o peso da gravidade em seus ombros, ele é aparafusado à terra. Mas o homem só tem que afundar debaixo da superfície e ele estará livre”. Será?
Publicado em VEJA de 22 de dezembro de 2023, edição nº 2873