Tio de presidente do Chile, arcebispo é investigado por pedofilia
O centenário Bernardino Piñera é acusado de ter cometido o crime há mais de 50 anos; Sebastián Piñera diz não acreditar no caso
O Vaticano abriu uma “investigação prévia” de denúncia de pedofilia contra o veterano arcebispo Bernardino Piñera, tio do atual presidente do Chile, Sebastián Piñera, que foi recebido pelo presidente Jair Bolsonaro nesta quarta-feira, 28, em Brasília. Bernardino também é o cardeal da Igreja Católica mais longevo, próximo de completar 104 anos no final de setembro.
Em comunicado oficial do dia 20 de agosto, a Nunciatura Apostólica no Chile informou que o caso envolve “um suposto abuso sexual a um menor de idade que teria sido cometido há mais de 50 anos pelo monsenhor Bernardino Piñera Carvallo”. Não há nenhuma outra descrição oficial sobre o incidente até o momento.
A Nunciatura, que funciona como uma embaixada do Vaticano no país, também afirmou na nota estar “em contato com a pessoa que apresentou a denúncia e, ao mesmo tempo, está se atuando em respeito da presunção de inocência”. O arcebispo, porém, afirmou não cometido o delito.
“Manifesto desconhecer a acusação e ofereço minha plena disposição para colaborar com o seu esclarecimento”, disse Bernardino Piñera.
Em defesa de seu tio, o presidente chileno assumiu uma postura mais ríspida do que a Igreja. Embora defenda que a investigação da Igreja tenha prosseguimento, Sebastián Piñera descredibiliza a denúncia.
“Custa-me acreditar em uma denúncia realizada 50 anos depois dos atos eventualmente ocorridos de um homem que tem 103 anos de vida”, afirmou o presidente no mesmo dia em que a Igreja tornou a denúncia pública.
O caso colocou Piñera em uma situação constrangedora. Seu governo promulgou no mês passado uma lei que acaba com a prescrição por tempo do crime de pedofilia. Como a nova lei não é retroativa, a investigação sobre seu tio se orienta de acordo com a legislação anterior, segundo a qual os crimes sexuais contra menores têm prazo de prescrição entre cinco e dez anos após a vítima se tornar maior de idade.
A Igreja Católica demonstra preocupação com os casos de abuso sexual contra menores no Chile desde 2011, quando a Santa Sé declarou Fernando Karadima, então sacerdote em Santiago, culpado de abusos sexuais contra menores.
Segundo dados de maio passado do Ministério Público do Chile, mais de 200 membros da Igreja estão sob investigação em casos de abuso sexual. Pelo menos 131 pessoas teriam sido violadas quando eram menores de idade por sacerdotes.
Bernardino Piñera é arcebispo emérito da arquidiocese de La Serena, uma pequena cidade litorânea com menos de 200.000 habitantes, desde 1990. Sacerdote desde 1945, ele atuou nas dioceses de Santiago, de Talca e de Temuco entre as décadas de 1940 e 1960, quando o suposto crime teria ocorrido.