Soldados norte-coreanos da Zona Desmilitarizada sonham com reunificação
Na última fronteira da Guerra Fria, encontro entre Kim Jong-Un e Donald Trump traz esperança; alto-falantes de propaganda se calaram

Na última fronteira da Guerra Fria, onde os militares das duas Coreias se vigiam de perto, os alto-falantes que divulgam propaganda dos dois lados se calaram. Até mesmo os soldados norte-coreanos esperavamm que a reunião histórica de terça-feira (12) representasse o início de uma nova era.
As cabanas de cor azul de Panmunjom, localidade da chamada Zona Desmilitarizada (DMZ), que divide a Península Coreana, tornaram-se o emblema da trégua que pôs fim aos combates da Guerra da Coreia (1950-53).
O local é um destino habitual para os líderes americanos que desejam mostrar sua determinação diante da Coreia do Norte.
Mas, agora, soldados norte-coreanos mobilizados na região mostram seu entusiasmo com a inédita reunião desta terça-feira, em Singapura, entre seu comandante-em-chefe, Kim Jong-un, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
“No passado, tivemos sentimentos negativos a respeito das tropas do outro lado”, conta à AFP o tenente-coronel Hwang Myong-jin, do Exército norte-coreano.
“Mas devemos ser amigos dos que nos tratam com boa vontade e querem melhorar as relações e fazer o mesmo caminho de mãos dadas, apesar de nossa história”, completou.
O tenente-coronel Hwang considera a reunião, que começou com um aperto de mãos entre Kim e Trump, algo a princípio “positivo”.
Pinheiro da paz
“No passado, nossa república foi tomada pelas grandes potências. Mas hoje mostramos nossa dignidade como nação independente para o mundo inteiro”, disse.
Ele mostra com entusiasmo o pinheiro plantado simbolicamente por seu dirigente e pelo presidente sul-coreano, Moon Jae-in, durante a primeira reunião de cúpula, no fim de abril. Com luvas brancas, os dois governantes utilizaram pás com terras procedentes do Monte Paektu, um local sagrado para os norte-coreanos, e do Monte Halla, na ilha sul-coreana de Jeju.
“No início, senti muito nervosismo a respeito da reunião”, recorda o oficial. “Nosso líder supremo entraria no Sul, o lado perigoso da fronteira”, alegou.
Mas, quando Kim tomou o presidente sul-coreano pela mão para que atravessassem simbolicamente a linha de demarcação por alguns metros, para uma breve incursão no Norte, “pensei que o dia da reunificação estava próximo”, disse o tenente-coronel.
As manifestações de otimismo eram inimagináveis há poucos meses.
A Coreia do Norte afirma ter vencido o conflito, que chama de “grande guerra de libertação da pátria-mãe”.
Do lado norte da DMZ, uma placa destaca uma visita de 2012 de Kim Jong-un, que “nos deu uma lição preciosa: este ponto é um local histórico onde os invasores americanos se ajoelharam diante do nosso povo para assinar sua rendição. Nossas gerações futuras viverão em uma pátria-mãe reunificada”.
“O caminho da paz”
O Norte destaca frequentemente a importância de reunificar uma península dividida pelos Estados Unidos e União Soviética ao final da Segunda Guerra Mundial. Sua invasão, em 1950, foi uma tentativa de fazer a união pela força.
Desde então, a Coreia do Sul, democrática e capitalista, tornou-se a 11ª maior economia mundial.
A Coreia do Norte sofreu com o colapso da União Soviética e com as múltiplas sanções adotadas pelo Conselho de Segurança da ONU para punir suas ambições nucleares.
Durante uma viagem anterior à DMZ, o guarda que escoltava a AFP declarou que a “verdadeira natureza” dos Estados Unidos era “bloquear a rota para a paz”.
“Como soldado, acredito apenas em expulsar os Estados Unidos do Sul quando for possível e unificar nossa nação”, disse o oficial.
Diante da principal estação de trens de Pyongyang, um telão que geralmente exibe imagens de manobras militares e de disparos de mísseis mostrava fotos de infraestruturas e projetos agrícolas.
Na livraria do lobby do Yanggakdo, o principal hotel para turistas, os cartões postais de propaganda antiamericana, que mostram mísseis apontados para os Estados Unidos, ainda ocupavam um lugar de destaque.