Sob pressão de Trump, tribunal de Israel adia julgamento de corrupção contra Netanyahu
Audiência foi suspensa por questões diplomáticas e de segurança apresentadas à corte pelo premiê, pelo Mossad e pelo chefe da inteligência militar do país

O Tribunal Distrital de Jerusalém cancelou neste domingo, 29, as audiências do caso de corrupção contra o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, previstas para esta semana. O julgamento foi adiado por questões diplomáticas e de segurança apresentadas à corte pelo premiê, pelo chefe da agência de espionagem israelense, o Mossad, pelo chefe da inteligência militar do país.
“Após as explicações dadas… aceitamos parcialmente o pedido e cancelamos neste momento as audiências do Sr. Netanyahu agendadas”, informou o tribunal israelense em decisão, que foi publicada online pelo partido Likud de Netanyahu.
Os advogados de Netanyahu pediram para que ele fosse liberado de testemunhar nas próximas duas semanas para que pudesse focar na diplomacia. Israel tem estado no centro de um furacão no Oriente Médio. De um lado, firmou um frágil cessar-fogo com o Irã, marcado por trocas de farpas sobre supostas violações ao acordo; de outro, continua a guerra na Faixa de Gaza, sob justificativas de recuperar os reféns mantidos no enclave. Nas últimas semanas, também bombardeou o Líbano, colocando em risco a trégua com a milícia libanesa Hezbollah.
A princípio, o tribunal não foi convencido. A situação mudou de figura no domingo, quando a equipe jurídica de Netanyahu submeteu a agenda do primeiro-ministro ao tribunal para demonstrar “a necessidade nacional de o primeiro-ministro dedicar todo o seu tempo e energia às questões políticas, nacionais e de segurança em questão”.
+ Israel intensifica bombardeios em Gaza em dia de negociações de cessar-fogo na Casa Branca
Entenda o caso
O primeiro-ministro foi indiciado em 2019 por acusações de suborno, fraude e abuso de confiança. Ele nega qualquer irregularidade e alega que o caso é resultado de uma perseguição política liderada pela esquerda, que teria como finalidade derrubar um governo de direita democraticamente eleito. Netanyahu entrou com vários pedidos de postergamento das audiências desde o início do julgamento em maio de 2020.
Em um dos casos, ele e sua esposa, Sara, são acusados de aceitar mais de US$ 260.000 em bens de luxo, incluindo joias e champanhe, de bilionários em troca de favores políticos. Netanyahu também é acusado de tentar influenciar a cobertura de dois veículos de comunicação israelenses, com o objetivo de que as notícias fossem mais favoráveis à sua administração.
+ ‘Caça às bruxas’: Trump pede que julgamento de Netanyahu por corrupção seja cancelado
Dedo de Trump
Na semana passada, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, demandou que o caso fosse arquivado. Na Truth Social, rede social da qual é dono, o republicano disse que o julgamento “deveria ser CANCELADO, IMEDIATAMENTE, ou um perdão deveria ser dado a um Grande Herói”, em referência a Netanyahu. Ele também afirmou que Washington, principal apoiador de Israel, não iria “tolerar isso”.
“Bibi e eu passamos pelo INFERNO juntos, lutando contra um inimigo de longa data, muito duro e brilhante, de Israel, o Irã, e Bibi não poderia ter sido melhor, mais perspicaz ou mais forte em seu AMOR pela incrível Terra Santa”, escreveu Trump, usando um apelido do líder israelense.
“É uma LOUCURA fazer o que os promotores descontrolados estão fazendo com Bibi Netanyahu”, opinou ele.
Em resposta, Netanyahu agradeceu a Trump, acrescentando: “Juntos, faremos o Oriente Médio grande novamente!”. O pitaco do presidente americano foi criticado pela esquerda israelense. O líder da oposição israelense, Yair Lapid, argumentou que Trump “não deveria interferir em um julgamento judicial em um país independente”.
Enquanto isso, um representante do governo do premiê deve chegar a Washington nesta segunda-feira, 30, um dia após Trump ter exigido o fim da guerra que se arrasta há vinte meses. “Fechem o acordo em Gaza, resgatem os reféns”, comandou num post na Truth Social.