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Sem ‘Trump romeno’, populista crítico da Otan vai ao 2º turno com centro-direita

Em reviravolta, primeiro-ministro da Romênia, Marcel Ciolacu, ficou de fora da disputa, bem como George Simion, conhecido admirador do presidente dos EUA

Por Da Redação Atualizado em 25 nov 2024, 10h03 - Publicado em 25 nov 2024, 09h52

O ultradireitista Calin Georgescu ficou em primeiro lugar nas eleições presidenciais da Romênia no domingo 25, e vai disputar o segundo turno com a reformista Elena Lasconi, uma ex-jornalista de centro-direita. Em uma reviravolta, o atual primeiro-ministro do país, Marcel Ciolacu, de centro-esquerda, ficou em terceiro lugar no pleito que viu a predominância do conservadorismo radical.

Um super nacionalista pró-Rússia que coleciona críticas à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Georgescu conquistou quase 23% dos votos no primeiro turno. Lasconi, da União Salve a Romênia (USR), conquistou 19,7% de apoio, superando Ciolacu, conhecido pela postura pró-União Europeia, por apenas 0,02 pontos percentuais. O resultado foi um choque, porque a maioria avassaladora das pesquisas de opinião apontavam uma vitória confortável do atual premiê e apenas 5% das intenções de voto para Georgescu.

“Nunca em nossos 34 anos de democracia vimos um aumento (de apoio) tão grande em comparação com as pesquisas”, disse à Reuters o analista político Radu Magdin, referindo-se ao período após a Romênia emergir do comunismo em 1989.

O presidente da Romênia tem um papel semiexecutivo, que inclui poderes importantes nas áreas de segurança nacional, política externa e nomeações judiciais. O segundo turno está marcado para 8 de dezembro, após as eleições parlamentares no próximo domingo.

Repercussões para além da fronteira

A corrida está sendo observada com atenção muito além da Romênia, que compartilha uma fronteira de quase 650 quilômetros com a Ucrânia e tem papel estratégico fundamental. Além de hospedar uma base militar da Otan, tem feito doações de mísseis defesa aérea Patriot a Kiev e virou uma rota de trânsito vital para o escoamento de milhões de toneladas de grãos ucranianos, que antes viajavam pelo agora sitiado Mar Negro.

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“Hoje à noite, o povo romeno clamou por paz. E eles gritaram muito alto, extremamente alto”, disse Georgescu, um professor universitário de 62 anos, na noite de domingo, em aparente referência às suas críticas ao apoio bélico dado aos ucranianos.

Lasconi, ex-correspondente de guerra e apresentadora de notícias de TV, juntou-se ao USR em 2018 e se tornou líder do partido neste ano. Eleita duas vezes como prefeita da pequena cidade de Câmpulung, ela defende aumentar os gastos com defesa e ajudar a Ucrânia. Georgescu, que trocou a legenda de extrema direita Aliança pela União dos Romenos (AUR), fez uma campanha viral no TikTok com duas frentes: reduzir a dependência da Romênia de importações de alimentos e energia e o fim do auxílio à Ucrânia.

O candidato já afirmou que a Romênia não estava pronta para lidar de forma independente com diplomacia e estratégia, que não confia na Otan para proteção e que a melhor chance para o fim da guerra estava na “sabedoria russa”. Ele se recusou, porém, a dizer explicitamente que apoia a Rússia em sua guerra contra a Ucrânia.

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Entre sua coleção de controvérsias, Georgescu já chamou de “heróis nacionais” o líder do exército fascista romeno na década de 1930, Corneliu Codreanu, e o ex-premiê Ion Antonescu, que governou o país durante a II Guerra Mundial e foi executado por sua participação no Holocausto da Romênia.

Economia e punição

O principal tema da eleição foi a inflação e a alta no custo de vida da Romênia. O país do Mar Negro tem a maior parcela de pessoas em risco de pobreza da União Europeia, bem como a maior taxa de inflação e o maior déficit orçamentário do bloco.

Georgescu afirmou em uma postagem no Facebook após ir às urnas que ele estava concorrendo “por aqueles que sentem que não importam, e que na verdade importam mais”. Mais tarde, ele disse que os resultados foram “um despertar extraordinário” do povo. O consultor político Cristian Andrei avaliou que a vitória do populista é fruto de um “voto de protesto ou revolta contra o establishment” e que os principais partidos “perderam a conexão com os romenos comuns” – uma história que vem se repetindo a torto e a direito na Europa, Estados Unidos e mundo afora.

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Representando a AUR, George Simion ganhou fama com o apelido “Trump romeno”, mas acabou em quarto lugar e ficou de fora do segundo turno. Ele enfrenta acusações de ter se encontrado com espiões russos, algo que ele negou. Mesmo assim, contando com o apoio que ele adquiriu, cerca de um terço dos eleitores no domingo votaram em candidatos de extrema direita nas eleições.

“A extrema direita é de longe a grande vencedora desta eleição”, resumiu o cientista político Cristian Pîrvulescu em entrevista à agência de notícias AFP.

O resultado também repetiu uma tendência global de punir governos nas urnas: os líderes das duas legendas que fazem parte da administração da Romênia, o Partido Social-Democrata de Ciolacu e o Partido Liberal Nacional (PNL), de centro-direita, foram ambos eliminados no primeiro turno. É a primeira vez na história pós-comunista da Romênia que o PSD não colocou um candidato no segundo turno.

Cerca de 9,4 milhões de pessoas – 52,5% de quem está elegível a votar – foram às urnas, de acordo com dados oficiais.

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