‘Sem espaço para Bezos’: moradores protestam contra casamento do bilionário em Veneza
Manifestantes prometem bloquear canais durante a festa de três dias; prefeitura diz que a cidade já está acostumada a eventos de alto nível

A união do bilionário Jeff Bezos com a jornalista Lauren Sánchez, marcada para o fim de junho em Veneza, já provoca insatisfação entre os locais. Na última sexta-feira, 13, moradores penduraram uma faixa com os dizeres “No space for Bezos” (sem espaço para Bezos) na histórica Ponte de Rialto, em protesto contra o casamento e o turismo em massa.
Desde março, quando o prefeito Luigi Brugnaro confirmou a cerimônia, moradores iniciaram uma campanha contra o evento. Para os venezianos, celebrações VIP como essa escancaram a transformação da cidade em um “playground para ricos”, enquanto os moradores arcam com o aumento no custo de vida, o desaparecimento do comércio local e a perda do espaço público.
Os protestos ganharam força nas últimas semanas, com planos de bloqueios de canais. “Vamos ocupar as ruas com os nossos corpos, bloquear os canais com boias, botes e os nossos próprios barcos”, declarou uma organizadora, sob aplausos, conforme o New York Times.
Com cerca de 50 mil habitantes, Veneza sofre há décadas com o êxodo da população local, provocado pela alta nos preços dos aluguéis, pela especulação imobiliária e pela dependência econômica do turismo. Em abril, entrou em vigor uma taxa para turistas que visitam a cidade apenas durante o dia, tentativa das autoridades locais de conter o fluxo desenfreado de visitantes, mas nem a taxa de 5 euros conteve o fluxo diário de turistas.
Os ativistas afirmam que a cerimônia, descrita por jornais italianos como “o maior casamento em Veneza desde George Clooney”, vai custar cerca de 10 milhões de euros, reservar cinco hotéis de luxo e reunir 200 a 250 convidados, entre eles Oprah Winfrey, Leonardo DiCaprio, Katy Perry e Ivanka Trump. A festa deve ocorrer de 24 a 26 de junho na ilha de San Giorgio Maggiore, diante da Praça São Marcos; apenas 30 dos 280 táxis aquáticos da cidade estariam bloqueados para uso do elenco VIP, segundo a prefeitura.
O prefeito Brugnaro diz estar “orgulhoso” da escolha do casal e garante que serviços como transportes e coleta de lixo seguirão normais. O secretário de Turismo, Simone Venturini, argumenta que a cidade já sediou G7, Bienal e outros casamentos de celebridades “muito mais complexos”, e que só uma minoria de “profissionais do protesto” vê problemas em um evento privado.
Veneza não está sozinha. Nos últimos dias, manifestantes em Barcelona e nas Ilhas Baleares dispararam pistolas de água contra turistas, símbolo da revolta contra o excesso de visitantes, enquanto funcionários do Louvre, em Paris, fecharam o museu em greve relâmpago para protestar contra superlotação e falta de infraestrutura.