Rússia reduz em 80% o fornecimento de gás para Europa
Moscou citou problemas técnicos com uma peça do gasoduto Nord Stream 1 para justificar os cortes; UE acredita que a redução tenha motivação política
A gigante estatal de energia da Rússia, a Gazprom, disse nesta segunda-feira, 25, que reduziria ainda mais os fluxos de gás natural através do principal gasoduto para a Europa, o Nord Stream 1. Citando reparos de equipamentos, comunicou que o fornecimento cairia para 20% da capacidade, sendo que o duto já operava em 40% desde junho.
“O rendimento diário” do oleoduto Nord Stream 1 para a Alemanha vai ser reduzido para 33 milhões de metros cúbicos a partir de quarta-feira, tuitou a empresa, dizendo que estava desligando uma segunda turbina para reparos. O chefe do regulador de rede da Alemanha, Klaus Mueller, confirmou a redução.
Na segunda-feira, as entregas ainda estão chegando em 40% da capacidade total . O Nord Stream 1 reabriu na semana passada após 10 dias de manutenção programada, quando o governo alemão havia dito que os reparos não levariam a novas reduções de gás.
“Estamos monitorando a situação muito de perto em estreita troca com a agência de rede federal e a equipe de crise do gás”, disse o Ministério da Economia alemão em comunicado na segunda-feira após o anúncio da Gazprom. “De acordo com nossas informações, não há razão técnica para uma redução nas entregas.”
O gás natural é usado para manter a indústria funcionando, gerar eletricidade e aquecer casas no inverno, e as preocupações estão aumentando sobre uma possível recessão se a Europa não economizar gás suficiente e o racionamento for necessário durante os meses frios.
A Rússia já cortou ou reduziu o gás natural para uma dúzia de países da União Europeia. O objetivo do bloco é usar menos gás agora para armazenar o suficiente para o inverno, propondo que os estados membros reduzam voluntariamente seu uso de gás em 15% nos próximos meses. Caso haja risco de escassez grave, a redução no consumo pode tornar-se obrigatória.
Espanha e Portugal disseram, no entanto, que vão rejeitar cortes obrigatórios, apontando que possuem poucas conexões de energia com o resto da Europa e que usam muito menos gás russo do que países como Alemanha e Itália. A Rússia responde por cerca de um terço do fornecimento de gás da Alemanha.
O governo alemão disse na semana passada que a redução nos fluxos de gás confirmou que o país não pode confiar nas entregas russas, anunciando que aumentaria seus requisitos de armazenamento de gás e tomaria outras medidas para conservar os suprimentos.
A Gazprom reduziu o fluxo de gás através do gasoduto Nord Stream 1 em 60% pela primeira vez em meados de junho, citando supostos problemas técnicos envolvendo uma peça que a parceira Siemens Energy enviou ao Canadá para revisão e não pôde ser devolvida devido a sanções impostas contra Moscou devido à invasão da Ucrânia.
O Canadá posteriormente permitiu que a turbina fosse entregue à Alemanha, que a enviou para a Rússia.
A Alemanha rejeitou repetidamente as explicações técnicas da Gazprom para as reduções de gás, dizendo que era apenas um pretexto para a decisão política do Kremlin de usar energia como arma de guerra e aumentar ainda mais os preços dos hidrocarbonetos.
+ Sanções a Putin deixam a desejar, e Rússia ainda fatura alto com petróleo
A Gazprom disse que não pôde aceitar os documentos sobre a turbina emitidos pelas autoridades canadenses, porque “teve que concluir que eles não eliminam os riscos identificados anteriormente e dão origem a perguntas adicionais”.
A empresa disse que solicitou “suporte imediato” da Siemens Energy para esclarecer a situação. A Alemanha diz que todos os envolvidos foram informados de que a peça não está sujeita a sanções da União Europeia, e a Siemens Energy disse que não tinha atualização dos russos.