Rússia diz que ‘impulso’ de Trump para fim da guerra na Ucrânia falhou
Republicano deu passos frustrados nas negociações de paz sobre Ucrânia, que não avançaram de forma concreta nos oito meses em que está no poder

O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Ryabkov, afirmou nesta quarta-feira, 8, que os esforços do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para pôr fim à guerra na Ucrânia falharam. Em campanha, Trump prometeu encerrar o conflito, que caminha para o seu quarto ano, em “24 horas” caso retornasse à Casa Branca. Mas o republicano deu passos frustrados nas negociações de paz sobre Ucrânia, que não avançaram de forma concreta nos oito meses em que está no poder.
“Infelizmente, é preciso reconhecer que o forte impulso de Anchorage para chegar a acordos foi, em grande parte, esgotado pelos esforços de oponentes e apoiadores da ‘guerra até o último ucraniano’ — principalmente entre os europeus”, disse Ryabkov ao Parlamento russo, a Duma, segundo a agência de notícias oficial TASS.
“Isso é resultado de ações destrutivas, principalmente dos europeus, sobre as quais falamos aberta e diretamente”, acrescentou ele.
A declaração se referiu à reunião entre Trump e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, no Alasca em agosto. Na ocasião, ao lado do líder russo, Trump disse que conversas foram “produtivas”, mas que “não há um acordo fechado”, embora exista “uma boa chance de chegar lá”. Mas, de lá para cá, as tratativas não progrediram. A Rússia continua a avançar no território vizinho, ao passo que Trump sugeriu que a Ucrânia conseguirá retomar, por completo, as áreas invadidas e ocupadas pelas tropas inimigas — uma ideia rejeitada por Moscou.
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Avanço russo
Na véspera, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que as Forças Armadas de Moscou capturaram quase 5 mil quilômetros quadrados de território ucraniano desde o início do ano, mantendo a “iniciativa estratégica total” no campo de batalha. Ele declarou que, embora Kiev esteja tentando realizar ataques profundos em território russo, essas ações não alterarão a situação geral do conflito.
A fala ocorreu durante reunião com os principais comandantes militares em Sochi, no mesmo fórum em que Putin acusou Kiev de tentar expandir ataques em território russo. A declaração também se dá em meio à intensificação dos combates no leste da Ucrânia e às tentativas frustradas de negociações de paz mediadas por países aliados.
O Kremlin já expressou preocupação com a possibilidade de os Estados Unidos fornecerem mísseis Tomahawk à Ucrânia, alegando que tais armas podem carregar ogivas nucleares e levar a uma escalada do conflito. Enquanto isso, Trump tem pressionado por negociações de paz, embora tenha expressado frustração com a postura de Putin, chamando suas ações de “desprezíveis”.
Desde o início da invasão em fevereiro de 2022, a Rússia controla aproximadamente 19% do território ucraniano, incluindo as regiões de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia. Em julho, a Rússia anunciou ter assumido o controle total da região de Luhansk, a primeira a ser completamente ocupada desde a anexação da Crimeia em 2014.
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Trump e Zelensky
Em meio à tratativas frustradas, os Estados Unidos passarão a oferecer informações de inteligência sobre alvos energéticos na Rússia à Ucrânia, informaram a agência de notícias Reuters e o jornal americano The Washington Post na última quinta-feira, 2, com base em autoridades americanas. A partir de imagens de satélite e dados de monitoramento, apoio da Casa Branca pode oferecer uma vantagem valiosa a Kiev, de forma a permitir ataques mais precisos a instalações russas.
Até o momento, a Ucrânia já atingiu 21 das 38 refinarias de petróleo da Rússia através de operações com drones de longo alcance. Em reflexo, houve escassez de combustível em partes do território russo e estima-se que, devido à investida ucraniana, a produção diária tenha caído em um quinto.
Após os rumores de compartilhamento de dados, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, amenizou a situação e disse que “os EUA transmitem inteligência para a Ucrânia regularmente online”, acrescentando: “O fornecimento e o uso de toda a infraestrutura da Otan e dos EUA para coletar e transferir inteligência para os ucranianos são óbvios”.
No final de setembro, Trump já havia indicado um fortalecimento dos laços com o governo de Volodymyr Zelensky. Na contramão de declarações anteriores, o republicano afirmou que a Ucrânia poderia “recuperar todo o território em sua forma original”. Até então, ele havia apoiado um plano que previa a cessão à Rússia das regiões orientais de Donetsk e Lugansk, em troca de um congelamento da frente nas regiões do sul, Kherson e Zaporizhzhia.
“Depois de conhecer e entender completamente a situação militar e econômica da Ucrânia/Rússia e, depois de ver os problemas econômicos que isso está causando à Rússia, acho que a Ucrânia, com o apoio da União Europeia, está em posição de lutar e CONQUISTAR toda a Ucrânia de volta à sua forma original”, escreveu ele na Truth Social, rede social da qual é dono, na ocasião.
Após encontro com Volodymyr Zelensky às margens da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, o líder americano também minimizou o poderio militar de Moscou, dizendo que a Rússia trava “uma guerra que uma potência militar de verdade teria vencido em menos de uma semana”, concluindo: “Na verdade, a faz parecer um ‘tigre de papel'”.