Rússia barra acordo de escoamento de grãos após ataque a ponte na Crimeia
Pacto mediado pela ONU permitia exportação de produtos ucranianos pelo Mar Negro e era visto como vital para fornecer alimentos ao mundo
A Rússia suspendeu nesta segunda-feira, 17, um acordo que permitia o escoamento de grãos da Ucrânia pelo Mar Negro, poucas horas depois de uma explosão derrubar uma ponte russa que dava passagem para a Crimeia. O pacto, mediado pelas Nações Unidas, era visto como vital para o fornecimento de alimentos ao mundo.
Moscou disse que um casal de civis foi morto e sua filha, ferida, no ataque à importante rodovia que dava acesso à Ucrânia a soldados russos, que classificou como um ato terrorista de Kiev com drones marítimos.
O Kremlin alegou que não há ligação entre o ataque e sua decisão de suspender o acordo de grãos. De acordo com o governo russo, as negociações falharam em diminuir restrições às exportações russas de alimentos e fertilizantes.
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“Os acordos do Mar Negro deixaram de ser válidos hoje”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a repórteres em uma teleconferência. “Infelizmente, a parte desses acordos do Mar Negro em relação à Rússia não foi implementada até agora, então seu efeito foi encerrado.”
Imagens aéreas mostram que uma seção da ponte rodoviária caiu e o tráfego de veículos foi interrompido em ambas as direções, embora uma ponte ferroviária paralela à via ainda esteja operacional. Explosões foram relatadas antes do amanhecer na ponte de 19 quilômetros, que o presidente russo, Vladimir Putin, mandou construir depois de anexar a península da Ucrânia em 2014.
Kiev não se manifestou sobre as explosões, seguindo a prática de não comentar ataques na Crimeia ou dentro da Rússia. No entanto, o governo ucraniano há muito sustenta que a ponte foi construída ilegalmente, e seu uso para enviar suprimentos militares a áreas ocupadas pelos russos na Ucrânia a torna um alvo legítimo. Em outubro passado, a estrutura já havia sido atingida por um míssil, mas Moscou havia restaurado a via.
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A suspensão do acordo de grãos promete elevar os preços dos alimentos em todo o mundo, especialmente nos países mais pobres. A Ucrânia e a Rússia estão entre os maiores exportadores mundiais de grãos, apelidadas de “celeiro do planeta”.
No ano passado, o pacto negociado com mediação das Nações Unidas e da Turquia foi comemorado por impedir uma crise alimentar global. Depois do aval de todas as partes, a Rússia suspendeu um bloqueio aos portos no Mar Negro e concordou em deixar os navios ucranianos zarparem após inspeções de Ancara.
O presidente turco, Tayyip Recep Erdogan, afirmou que ainda acredita que Putin deseja dar continuidade ao acordo. Segundo ele, os ministros das Relações Exteriores da Rússia e da Turquia manterão conversas ainda nesta segunda-feira.
“Espero que, com esta discussão, possamos fazer algum progresso e continuar nosso caminho sem parar”, disse Erdogan em coletiva de imprensa.
Os preços globais de commodities alimentares subiram um pouco nesta segunda-feira, sugerindo que os comerciantes ainda não anteciparam uma grave crise de oferta.
Na semana passada, Putin já havia ameaçado suspender a participação no pacto, apresentando exigências por regras mais flexíveis para suas próprias exportações de alimentos e fertilizantes.
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“Podemos suspender nossa participação no acordo e, se todos mais uma vez disserem que todas as promessas feitas a nós serão cumpridas, deixe-os cumprir essa promessa. Voltaremos imediatamente a este acordo”, falou Putin há poucos dias.
Quando o acordo para o escoamento de grãos ucranianos foi fechado, funcionários das Nações Unidas também concordaram em ajudar a Rússia a garantir acesso aos mercados estrangeiros. Agora, Moscou argumenta que esses termos não foram implementados. Enquanto isso, nações ocidentais alegam que o Kremlin está tentando o acordo de grãos para afrouxar sanções financeiras resultantes da guerra, que não se aplicam às suas exportações agrícolas.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, descreveu a suspensão do acordo pela Rússia como uma “ação cínica” e disse que a União Europeia continuará tentando garantir alimentos para os países pobres.