Rússia amplia conquistas na Ucrânia às vésperas de reunião entre Putin e Trump
Soldados russos conseguiram infiltrar pelo menos 10 km para o norte em duas frentes nos últimos dias, parte do cerco à região de Donetsk

As forças russas avançaram leste da Ucrânia, nos arredores da cidade de mineração de carvão de Dobropillia, mostrou o mapa interativo não governamental DeepStateMap, que acompanha as linhas de frente do conflito, nesta terça-feira, 12. A movimentação no tabuleiro bélico ocorre poucos dias antes da reunião entre o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o seu homólogo americano, Donald Trump, sobre o futuro da guerra na Ucrânia.
O mapa também mostra que os soldados russos conseguiram infiltrar pelo menos 10 km para o norte em duas frentes nos últimos dias, parte do cerco à região de Donetsk, anexada ilegalmente por Putin em setembro de 2022, mas nunca completamente controlada por Moscou. Além de Donetsk, o chefe do Kremlin tornou Kherson, Luhansk e Zaporizhzhia parte do mapa russo. Quase uma década antes, ele já havia anexado a Crimeia, uma península ucraniana.
Além disso, a ONG indicou que as tropas de Putin ganharam terreno perto de três vilarejos em uma parte da linha de frente associada às cidades ucranianas de Kostyantynivka e Pokrovsk — a primeira, assim como Sloviansk, Kramatorsk, Druzhkivka, é considerada uma “cidade-fortaleza” por autoridades russas e são essenciais para a tomada de Donetsk.
“A situação é bastante caótica, pois o inimigo, tendo encontrado brechas na defesa, está se infiltrando mais profundamente, tentando consolidar e acumular forças rapidamente para avançar ainda mais”, escreveu o DeepState no Telegram.
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Reação ucraniana
Em meio à perda progressiva, o principal comandante militar da Ucrânia, Oleksandr Syrskyi, enviou reforços “para detectar e destruir grupos de sabotagem inimigos que penetrassem na linha de defesa”, informou Andriy Kovalov, porta-voz do exército ucraniano, à agência de notícias local Interfax-Ucrânia. Ele também afirmou que Moscou usava sua superioridade numérica — Kiev conta com um número reduzido de soldados, esgotados pelos três anos de conflito — para infiltrar as linhas de defesa em pequenos grupos.
“(Putin) certamente não está se preparando para um cessar-fogo e o fim da guerra”, disse Zelensky em discurso noturno nesta segunda-feira, 12, reconhecendo que as forças russas se movimentavam no campo de batalha. “Não há sinais de que os russos tenham recebido sinais para se preparar para uma situação pós-guerra.”
Tatarigami_UA, um ex-oficial do exército ucraniano que monitora o conflito sob codinome, destacou que “tanto em 2014 quanto em 2015, a Rússia lançou grandes ofensivas antes das negociações para ganhar vantagem”, amenizando: “A situação atual é grave, mas está longe do colapso que alguns sugerem”. Por sua vez, Sergei Markov, ex-assessor do Kremlin, pontuou que o avanço russo se deve “um colapso parcial na frente” pela falta de militares ucranianos.
“Este avanço é como um presente para Putin e Trump durante as negociações”, opinou Markov, referindo-se a como o líder russo pode pressionar o governo ucraniano a ceder territórios no encontro com o republicano.
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Aumento das tensões
Antes do encontro com Putin no Alasca na sexta-feira, Trump sugeriu que um acordo de paz poderia incluir “alguma troca de territórios”, embora não haja sinal de que a Rússia está disposta a oferecer qualquer coisa na barganha. Ele também prometeu dar um ultimato a Moscou, adiantando: “Vou falar com Vladimir Putin e vou dizer a ele: você precisa acabar com esta guerra. Você precisa acabar com ela”.
Putin demanda que Kiev concorde em ceder as quatro regiões ucranianas anexadas por ele há quase três anos — Donetsk, Lugansk, Zaporizhzhia e Kherson –, além da Crimeia, tomada ilegalmente em 2014. Ele também exige que a Ucrânia adote status de neutralidade, no qual seria impedida a se aliar a outros países, e abandone a pretensão de aderir à Otan. Zelensky, em contrapartida, rejeita qualquer proposta que fira a soberania ucraniana e demanda que as tratativas, a princípio, só abordem a pausa das hostilidades nas linhas de frente.
Segundo a agência de notícias americana Bloomberg, há um risco de que Zelensky seja encurralado com um acordo de “pegar ou largar”. Com o retorno de Trump à Casa Branca, em 20 de janeiro, o líder ucraniano passou a ser jogado para escanteio nas negociações sobre o fim da guerra. O republicano, ao contrário do ex-presidente Joe Biden, optou por privilegiar discussões com Putin, ainda que a relação dos dois tenha sido marcada por altos e baixos, de admiração a críticas descontroladas.