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Rei da Bélgica recebe líder da extrema-direita pela primeira vez

O rei Filipe reuniu-se com o dirigente do Vlaams Belang, partido em ascensão no Parlamento belga, para discutir a formação do novo governo

Por Da Redação
29 Maio 2019, 17h04

O rei Filipe da Bélgica reuniu-se nesta quarta-feira, 29, com o líder do Vlaams Belang, partido de extrema-direita a favor do separação da região de Flandres, em uma reunião inédita na era moderna do país. De acordo com a imprensa local, desde 1936 nenhum representante da extrema-direita havia comparecido a encontros oficiais com o rei.

Na segunda-feira 27, o monarca começou uma série de reuniões com líderes de partidos belgas, motivado pelos resultados das eleições nacionais no último domingo, que dividiram o país em dois.

A região de Flandres, em um bom momento econômico, votou na direita, enquanto o sul do país, na francófona Valônia, votou na esquerda, com ambos os lados preferindo optar pelos partidos à margem da classe política tradicional, ignorando os sociais-democratas, os liberais e os socialistas.

No domingo, quase 19% dos eleitores flamengos votaram no Vlaams Belang para os cargos legislativos, em uma reviravolta para a legenda que, em 2014 registrou apenas 3,67% das intenções.

Mediador

O convite do rei para o líder do partido, Tom Van Grieken, levou a um debate acalorado sobre como lidar com a ascensão da direita radical.

O Vlaams Belang havia sido excluído dos últimos governos por um cordon sanitaire, termo francês para definir o isolamento de influências indesejadas, em um movimento apoiado pelas outras forças políticas no poder.

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Com as mudanças na formação do Parlamento belga, o monarca deve participar das negociações para a formação do novo governo do país, normalmente composto por uma coalizão pluripartidária entre flamengos e francófonos.

Em ocasiões anteriores, nos anos de 1991 e 2003, outros reis se recusaram a se encontrar com o líder do Vlaams Blok, ancestral do Vlaams Belang. Entre os representantes de extrema-direita, o partido anti-monarquia do país também recusou um convite para ir ao palácio em 1978.

Ao jornal britânico The Guardian, a parlamentar socialista francófona Laurette Onkelinx disse ter ficado chocada com a decisão do rei. “Por que o rei deveria receber o Vlaams Belang? Este é um partido racista e violento, e acho que a mensagem transmitida pelo rei é danosa para a nação.”

Onkelinx ainda afirmou que as ações de Filipe “foram contra a coragem dos partidos democratas flamengos que continuam a dizer não ao Vlaams Belang.”

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Já Rudi Vervoort, ministro-presidente de Bruxelas, defendeu a decisão do rei. “Para mim, certamente não é prazeroso ver esta cena na Bélgica. Mas, por outro lado, existe uma realidade eleitoral em Flandres que não pode ser negada.”

O Vlaams Belang ficou em segundo lugar nas eleições nacionais, angariando 18 dos 150 assentos no Parlamento Federal, contra apenas três em 2014.

Desde o “domingo sombrio”, apelido dado por outros partidos ao dia da vitória dos separatistas, cresciam as expectativas sobre o possível encontro entre o rei e Tom Van Grieken, de 32 anos, que ajudou a suavizar a imagem do seu grupo.

Chegando ao Palácio Real de Bruxelas, Van Grieken negou estar participando de um momento histórico. “É totalmente normal convidar um partido que venceu as eleições.” “Estou agradecido pelo convite, mas não vou dizer que é algo anormal. Isto é natural. O que aconteceu nos últimos 40 anos não era democrático”, completou.

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O outro partido separatista de Flandres, Nova Aliança Flamenga (N-VA), não descartou formar uma aliança com o Vlaams Belang. O N-VA, pilar do último governo, manteve sua colocação como maior partido político da Bélgica, mas perdeu votos para seu rival de extrema-direita.

Repetição do passado

O rei Leopoldo III foi o último a se encontrar com um líder ultraconservador, em 1936, quando recebeu Léon Degrelle, do Rex, que mais tarde colaborou para a ocupação fascista no país.

Entre as suas diretrizes, o Vlaams Belang pede a abolição da monarquia belga e o fim do repasse de “bilhões” de euros para a Valônia, defendendo a independência de sua região.

O rei Filipe também recebeu o líder do Partido do Trabalho da Bélgica (PTB), uma legenda radical de esquerda que conquistou 12 assentos no Parlamento graças ao apoio da Valônia. Até agora, o PTB não tinha nenhum representante no legislativo federal.

Esta polarização motiva as intervenções do rei nos debates políticos. O país de 11 milhões de habitantes tenta evitar um cenário semelhante ao de 2010 em que, depois das eleições, os parlamentares levaram 541 dias para formar um novo governo.

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