Rei Charles reafirma força e liberdade do Canadá diante de ameaças de anexação de Trump
Discurso raro no Parlamento encerra primeira visita do rei ao Canadá como monarca

Durante uma rara sessão solene no Parlamento canadense nesta terça-feira (27), o rei Charles III fez um pronunciamento simbólico, destacando a autodeterminação do Canadá e enviando uma mensagem indireta ao ex-presidente Donald Trump: o país já tem um rei.
Sem mencionar Trump nominalmente, o monarca — que também é oficialmente chefe de Estado do Canadá — defendeu a identidade nacional canadense e os valores democráticos do país.
“Hoje, o Canadá enfrenta outro momento crítico”, afirmou Charles, em discurso redigido pelo governo canadense. “Democracia, pluralismo, Estado de Direito, autodeterminação e liberdade são valores preciosos para os canadenses, e o governo está determinado a protegê-los.”
A declaração ocorre após meses de provocações de Trump, que sugeriu publicamente que o Canadá deveria se tornar o 51º estado dos Estados Unidos.
Além disso, o ex-presidente impôs tarifas a produtos canadenses, agravando a crise do custo de vida no país.
Em resposta velada, Charles mencionou que “o sistema de comércio global aberto — que, embora imperfeito, trouxe prosperidade aos canadenses por décadas — está mudando. As relações do Canadá com seus parceiros também estão se transformando.”
A visita do rei, a primeira como soberano do Canadá, durou menos de 24 horas, mas foi marcada por grande pompa.
Acompanhado da rainha Camilla, Charles foi recebido com honras militares, desfile em carruagem e saudação de 21 tiros.
Ele participou de uma cerimônia no Senado e também de encontros com líderes indígenas e a população local em Ottawa.
O discurso do trono, lido por Charles — o primeiro monarca a fazê-lo no Canadá desde sua mãe, Elizabeth II, em 1977 — apresentou as prioridades do novo governo liderado pelo primeiro-ministro Mark Carney. O rei ressaltou a redefinição das relações bilaterais com os EUA como um dos principais projetos da nova gestão. “O primeiro-ministro e o presidente dos Estados Unidos estão começando a construir uma nova relação econômica e de segurança entre as duas nações, baseada no respeito mútuo e em interesses comuns”, declarou.
Mesmo atuando sob restrições diplomáticas impostas pelo governo britânico, que pede moderação nas relações com Trump, Charles deu sinais sutis de apoio ao Canadá frente às ameaças de anexação. Em atos simbólicos recentes, o rei usou medalhas militares canadenses, plantou uma árvore de bordo — símbolo do país — e declarou ser fã do cantor Michael Bublé.
“Cada vez que venho ao Canadá, um pouco mais do país entra na minha corrente sanguínea — e daí vai direto para o meu coração”, escreveu Charles na introdução do discurso.
Apoiadores celebraram o rei com cânticos do hino nacional e de “God Save the King”. A viagem reforça o papel simbólico de Charles como chefe de Estado canadense e seu esforço contínuo para revitalizar o papel da monarquia nas relações internacionais, segundo assessores reais.
Na segunda-feira, Charles também se reuniu com Carney em Rideau Hall, a residência oficial da governadora-geral, e participou do plantio cerimonial de uma árvore, encerrando sua breve — mas carregada de mensagens políticas — passagem pelo Canadá.