Rebeldes sírios dizem ter apreendido drogas que regime Assad exportava ilegalmente
Irmão do presidente deposto é considerado cérebro por trás da venda de captagon, estimulante do tipo anfetamina, maior exportação da Síria
O dramático colapso do regime de Bashar al-Assad na Síria revelou alguns dos cantos mais escuros de seu governo, incluindo a exportação em escala industrial de uma droga proibida, o captagon. Nesta sexta-feira, 13, rebeldes sírios tomaram bases militares e centros de distribuição do estimulante do tipo anfetamina, que inundou o mercado oculto em todo o Oriente Médio e era a principal exportação do país.
Liderados pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), os rebeldes afirmaram que encontraram uma grande quantidade de drogas nos arredores de Damasco e juraram destruí-las. Segundo eles, as pílulas de captagon eram escondidas dentro de componentes elétricos para exportação. Em um armazém, engradados de caixas de papelão estavam prontos para disfarçar a carga como paletes de mercadorias padrão, ao lado de sacos de soda cáustica (ingrediente-chave na produção de metanfetamina, outro estimulante).
Um dos combatentes, Abu Malek al-Shami, afirmou à agência de notícias AFP que a fábrica estava ligada a Maher al-Assad, irmão do presidente deposto e um comandante militar (agora considerado foragido), e Amer Khiti, um político sancionado internacionalmente por controlar uma série de negócios na Síria que servem de fachada para a produção e o contrabando de drogas.
Estoques menores, mas ainda impressionantes, também apareceram em instalações militares associadas a unidades sob o comando de Maher al-Assad, como a base aérea de Mazzeh.
Narcoestado
Assad foi derrubado no último domingo 8, em uma ofensiva relâmpago liderada pelo HTS. Ele e sua família fugiram para a Rússia, onde receberam asilo político do Kremlin, um antigo aliado. Mas os lucros com a venda do captagon sustentaram o regime autoritário durante os mais de 13 anos de guerra civil da Síria.
O captagon transformou a Síria no maior narcoestado do mundo. É, de longe, a maior exportação da Síria, superando todas as suas exportações legais juntas, de acordo com estimativas extraídas de dados oficiais da AFP durante uma investigação de 2022.
Especialistas — como Hesham Alghannam, autor de um relatório do Carnegie Middle East Center, um think tank, publicado em julho — também acreditam que Assad usou a ameaça de revoltas alimentadas por drogas para pressionar os governos árabes por apoio. O captagon criou uma epidemia de dependência química em estados ricos do Golfo, ameaçando a estabilidade social, segundo Alghannam.
“Assad impulsionou o tráfico de captagon como um meio de exercer pressão sobre os estados do Golfo, notadamente a Arábia Saudita, para reintegrar a Síria ao mundo árabe”, escreveu Alghannam. Em certa medida, deu certo: em 2023, o país voltou a se juntar ao bloco da Liga Árabe.