Quem são os houthis, rebeldes que atacam navios no Mar Vermelho?
Ao todo, mais de 100 embarcações precisaram se desviar da rota pelo Canal de Suez, no Egito, para fugir dos mísseis lançados pelos militantes do Iêmen
Os houthis do Iêmen, facção político-religiosa apoiada pelo Irã, entraram nos holofotes do mundo após realizarem uma série de ataques contra navios no Mar Vermelho. Ao todo, mais de 100 embarcações precisaram trocar a tradicional rota através do Canal de Suez, no Egito, para fugir dos mísseis lançados pelos militantes – um desvio de 11 mil quilômetros que pode acrescentar três ou quatro semanas aos prazos de entrega dos produtos, elevando os temores de uma choque na economia mundial.
A ação orquestrada pelos rebeldes iemenitas, segundo eles próprios, serve de retaliação contra Israel devido à sua operação militar na Faixa de Gaza, contra o grupo terrorista palestino Hamas, e incessantes bombardeios que já ceifaram a vida de quase 20 mil pessoas, a maioria civis.
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Desde a eclosão da guerra em Gaza, em 7 de outubro, após um brutal ataque do Hamas deixar 1.200 israelenses mortos no sul do país, o transbordamento do conflito para o resto da região tornou-se grande fonte de preocupações. Os houthis são mais uma peça do complexo quebra-cabeça deste temor, que pode fundar uma guerra regional no Oriente Médio. Os Estados Unidos criaram uma força-tarefa com diversos aliados europeus para impedir novos ataques no Mar Vermelho, e podem se ver mais diretamente envolvidos na guerra Israel-Hamas do que entes.
Quando surgiram
Também conhecido como Ansarallah, o grupo rebelde foi batizado em homenagem ao seu líder, Hussein al-Houthi, fundador do movimento religioso “Juventude que Acredita”. Originalmente, tinha o apoio do presidente do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, mas tudo mudou com a invasão americana ao Iraque, em 2003 – chancelada por Saleh, mas criticada por muitos iemenitas.
Em meio à comoção pública, al-Houthi organizou manifestações em massa e rompeu com o primeiro governo pós-unificação do Iêmen, adotando o lema “Deus é grande. Morte aos Estados Unidos. Morte a Israel. Maldição aos judeus e vitória para o Islã”.
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Sob a ira de Saleh, ele foi alvo de um mandado de prisão poucos meses após o início da guerra no Iraque. Em 2004, ele foi assassinado pelas forças iemenitas. O seu legado, no entanto, perdurou e atraiu um número progressivo de adeptos.
Em 2011, os houthis deram seu primeiro passo em direção ao controle do país: tomaram a província de Saada, no norte, em meio aos protestos da Primavera Árabe, e demandaram o fim do governo Saleh. Encurralado, o presidente passou o poder para as mãos do impopular vice-presidente, Abd-Rabbu Mansour Hadi.
Novo capítulo
A insatisfação dos Houthis, contudo, continuou nas alturas. Em 2014, ano em que se completou uma década desde a morte de al-Houthi, os militantes ocuparam partes de Sanaa, capital do Iêmen, deflagrando uma guerra civil em grande escala. No ano seguinte, invadiram o palácio presidencial, levando Hadi a fugir para a Arábia Saudita. Por consequência, instaurou-se um conflito entre houthis e sauditas.
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Após anos de combates, que buscava remover o governo do poder, os militantes assinaram um cessar-fogo com o lado “inimigo” em 2022 – apenas para ser revogado seis meses depois. Mesmo assim, ambas as partes não voltaram a ampliar o embate.
Depois da poeira baixar no campo de batalha, o grupo armado conseguiu ganhar status, de fato, de um governo. Hoje, enxerga “uma enorme oportunidade para eles obterem legitimidade na região” com o apoio aos palestinos de Gaza, disse Farea al-Muslimi, pesquisador iemenita do programa Oriente Médio e Norte da África da Chatham House, ao jornal americano The New York Times.