Quem são os brasileiros com visto cancelado por Trump por ligação com Mais Médicos
Governo dos EUA diz que o 'esquema' serviu para enriquecer o 'corrupto regime cubano' e passou por cima das sanções americanas a Cuba

O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na quarta-feira 13 a revogação dos vistos americanos de autoridades brasileiras e da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) conectadas ao programa Mais Médicos. Segundo o Departamento de Estado, esse foi um “esquema coercitivo de exportação de mão de obra do regime cubano, que explora trabalhadores médicos cubanos por meio de trabalho forçado”, passando por cima das sanções americanas a Cuba.
Entre os brasileiros estão Mozart Júlio Tabosa Sales, secretário do Ministério da Saúde do Brasil, e Alberto Kleiman, um ex-funcionário do governo.
Ao falar do Mais Médicos, o Departamento de Estado americano diz que Sales e Kleiman “usaram a Opas como intermediária com a ditadura cubana para implementar o programa sem seguir os requisitos constitucionais brasileiros, driblando as sanções dos Estados Unidos a Cuba e, conscientemente, pagando ao regime cubano o que era devido aos trabalhadores médicos cubanos”.
O texto diz que o “esquema” serviu para enriquecer o “corrupto regime cubano” e privar a população de Cuba de cuidados médicos essenciais. No X (ex-Twitter), o secretário de Estado americano, Marco Rubio, escreveu que “o Mais Médicos foi um golpe diplomático inconcebível de ‘missões médicas’ estrangeiras”. Também disse que as pessoas sancionadas foram “cúmplices do esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano”.
Os alvos
Secretário de Atenção Especializada à Saúde, Sales é médico formado pela Universidade de Pernambuco e, além de ser servidor concursado do Hospital Universitário Oswaldo Cruz desde 1999, é médico legista do Instituto de Medicina Legal de Pernambuco. Na vida pública, foi vereador do Recife entre 2004 e 2008 e presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal. No governo federal, ocupou cargos como assessor e chefe de gabinete no Ministério da Saúde e, entre 2012 e 2014, foi secretário de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (período durante o qual participou da criação do programa Mais Médicos, lançado no governo Dilma Rousseff).
Alberto Kleiman, por sua vez, é hoje diretor da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) para a COP30. Até o ano passado, ele estava diretamente envolvido na organização da cúpula climática das Nações Unidas que terá Belém como sede, na Secretaria Extraordinária para a COP 30, vinculada à Casa Civil. Anteriormente, trabalhou na área de relações internacionais em gestões do Partido dos Trabalhadores (PT) na Prefeitura de São Paulo e na Presidência da República, até chegar ao Ministério da Saúde, em abril de 2012, durante o governo Dilma.
A decisão veio em meio a uma onda de sanções e punições diversas dos Estados Unidos contra o Brasil. A avaliação do país piorou no último relatório de direitos humanos do Departamento de Estado americano (enquanto a de nações aliadas conhecidas por flagrantes violações, como El Salvador, Israel e Rússia melhorou), mais de 3 mil produtos brasileiros tornaram-se alvo de sobretaxa de 50%, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes recebeu sanções econômicas por meio da Lei Magnitsky, usada para punir violadores de direitos humanos — tudo num contexto em que Trump sai em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no julgamento da trama golpista, que o líder americano chama de “caça às bruxas”.
A investigação sobre o Mais Médicos começou já no primeiro mandato do republicano. Em 2020, o então secretário de Estado americano, Mike Pompeo, exigiu que a Opas esclarecesse seu envolvimento no envio de médicos cubanos ao Brasil. Assim como Rubio, Pompeo também acusou a organização de “facilitar o trabalho forçado” de médicos cubanos por meio do programa.