Quem é François Bayrou, novo primeiro-ministro da França
Líder do partido Movimento Democrático, político de 73 anos é conhecido por manter boas relações com campos opostos da Assembleia Nacional
Pouco mais de uma semana após a queda do antigo governo, o presidente da França, Emmanuel Macron, nomeou um sucessor para o cargo de primeiro-ministro: François Bayrou, um antigo aliado centrista. Líder do partido Movimento Democrático (MoDem) e prefeito da cidade de Pau, o político de 73 anos é conhecido por manter boas relações com lados opostos do espectro político na Assembleia Nacional — uma qualidade indispensável, já que nenhuma das principais forças políticas francesas detém maioria absoluta no Parlamento.
A chegada de Bayrou ao posto de liderança põe um ponto final, ao menos momentaneamente, na crise política que se instaurou no país com a queda do ex-titular do cargo Michel Barnier, na quarta-feira da semana passada. Sem maioria na casa legislativa, ele viu um total de 331 parlamentares votaram a favor da moção de desconfiança apresentada pela aliança esquerdista Nova Frente Popular (NFP), mas que foi apoiada também pelo partido de extrema direita Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen. Eram necessários 288 votos para derrubar o governo.
Com a derrota, Barnier foi obrigado a apresentar sua renúncia e a de seu governo a Macron, abrindo um vácuo de poder. No cargo há apenas três meses, o conservador virou dono do governo de menor duração da Quinta República, e o primeiro a ser deposto dessa forma desde 1962. Sem um primeiro-ministro no comando, o Parlamento fica travado, ou seja, impossibilitado de realizar novas votações até a nomeação de um sucessor.
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Experiência política
Bayrou tem uma longa carreira na política. Entre 1993 e 1997, ele atuou como ministro da Educação de um governo conservador. Anos depois, arriscou voos mais altos com três candidaturas à Presidência, em 2002, 2007 e 2012, mas todas frustradas. Em nenhuma das vezes teve resultados bons — o melhor foi em 2007, quando arrematou quase 19% dos votos e ficou em terceiro lugar. Exatos dez anos depois, desistiu da missão para apoiar Macron na corrida contra Marine Le Pen (que ele venceu), juntando o MoDem à aliança centrista do atual presidente.
No governo Macron, Bayrou chegou a ocupar o cargo de ministro da Justiça, mas por pouco tempo, devido a uma investigação sobre um suposto desvio de fundos do Parlamento Europeu pelo MoDem. Ele foi inocentado da acusação de fraude apenas neste ano, quando um tribunal de Paris considerou oito dirigentes culpados e aplicou uma multa ao partido.
O motivo da queda de Barnier pode ser também uma pedra no sapato para Bayrou: a aprovação do orçamento de 2025, que busca conter o crescente déficit público da França por meio de 60 bilhões de euros (cerca de 382 bilhões de reais) em aumentos de impostos e cortes de gastos. O antigo premiê passou por cima da Assembleia para aprovar o plano de gastos sem o apoio dos deputados, fazendo chover críticas e perdendo o apoio à sua liderança. Agora, o futuro orçamentário está nas mãos do recém-nomeado premiê.
“A bola está na quadra de François Bayrou”, disse o presidente do Reagrupamento Nacional, Jordan Bardella, que aguarda para ver qual será a postura do novo primeiro-ministro.
Em contrapartida, alguns partidos da Nova Frente Popular parecem estar mais do que insatisfeitos com a escolha. No X, antigo Twitter, a líder do grupo de extrema esquerda França Insubmissa na Assembleia Nacional, Mathilde Panot, afirmou que Bayrou representa uma “continuidade das más políticas (de Macron)”, adiantando que o partido já deseja votar outra moção de censura.
Ainda não está claro se os partidos de centro-esquerda (Partido Socialista, Partido Verde e Partido Comunista), que romperam com o França Insubmissa e toparam sentar-se à mesa de negociações com o governo Macron no complicado xadrez da escolha do novo premiê, vão apoiar o governo de Bayrou. A esperança dessas legendas era que o próximo titular do cargo deveria vir do campo da esquerda, visto que a NFP venceu as eleições parlamentares que ocorreram antecipadamente em julho.
Na corda bamba, o governo de Macron sobrevive mais um dia, mas a pergunta que parece despontar no imaginário francês é: “Até quando?”.