Queda de Assad é ‘ato de justiça’, mas gera ‘momento de incertezas’, pondera Biden
Presidente americano disse estar ciente do fato de que Estado Islâmico tentará tirar vantagem de vácuo de poder e que "não deixaremos isso acontecer"

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou neste domingo, 8, que a queda do presidente sírio, Bashar al-Assad, é “fundamentalmente um ato de justiça” e uma oportunidade histórica para que o povo da Síria, que há tanto sofre, construa um futuro melhor para seu país”. A tomada da capital, Damasco, por rebeldes, no entanto, é também “um momento de risco e incerteza, e todos nos viramos às pergunta do que vem a seguir”, ponderou o democrata.
“Por anos, os principais apoiadores de Assad foram o Irã, o Hezbollah e a Rússia. Mas, na última semana, o apoio deles desmoronou, todos os três, porque todos os três estão muito mais fracos hoje do que quando assumi o cargo”, disse Biden. “O resultado de tudo isso é que, pela primeira vez, nem a Rússia, nem o Irã, nem o Hezbollah conseguiram defender esse regime abominável na Síria”.
O líder americano ressaltou que enviará representantes ao Oriente Médio e conversará com líderes da região para “garantir a estabilidade”, assim como participação de todos os grupos sírios no processo liderado pelas Nações Unidas para transição de poder.
“Estamos cientes do fato de que o Estado Islâmico tentará tirar vantagem de qualquer vácuo para restabelecer suas capacidades e criar um refúgio seguro. Não deixaremos isso acontecer”, disse. “Agora cabe a todos os grupos de oposição buscar um papel no governo da Síria, para demonstrar seu comprometimento com os direitos de todos os sírios, o Estado de direito e a proteção das minorias religiosas e étnicas”.
Transição de poder
Mais cedo, o representante especial da ONU para a Síria, Geir Pedersen, pediu negociações urgentes para garantir uma “transição política ordenada”. A jornalistas, ele afirmou que o objetivo deveria ser a implementação da Resolução 2254 da ONU, adotada em 2015 e que exige um processo político liderado pelos sírios, começando com a formação de um órgão governamental de transição, seguido pela redação de uma nova Constituição e, por fim, eleições supervisionadas pela ONU.
Depois de tomar Damasco, os rebeldes afirmaram que continuam trabalhando para finalizar a transferência de poder na Síria para um governo de transição com plenos poderes executivos. O primeiro-ministro sírio, Mohammed Ghazi Jalali, disse que o governo está pronto para “estender a mão” à oposição e entregar suas funções a um governo de transição.
O líder do grupo jihadista Hayet Tahrir al-Sham (HTS), Abu Mohammed al-Jawlani, que dirige a coalizão rebelde, pediu a seus combatente que não se aproximem das instituições públicas, assegurando que permanecem sob a autoridade do primeiro-ministro até a “transferência oficial” de poder.
Desde o último sábado, os rebeldes têm avançado por cidades estratégicas do país. O exército sírio, que tentou conter os radicais e recebeu ajuda da Rússia e do Irã, abandonou a cidade de Homs, a 160 quilômetros da capital, que foi tomada na manhã de sábado. Membros do exército teriam deixado o local de helicóptero.
A queda de Assad marca o fim de uma dinastia de mais de 50 anos. No poder desde 2000, o líder comandou com repressão o país depois de herdar a cadeira do pai, Hafez al-Assad, também presidente por mais de 30 anos.
A guerra civil síria começou há 13 anos, durante a Primavera Árabe, e se transformou em um conflito sangrento e multifacetado envolvendo grupos de oposição domésticos, facções extremistas e potências internacionais, incluindo os Estados Unidos, o Irã e a Rússia. Mais de 500.000 sírios morreram, e milhões fugiram de suas casas.