Quatro anos depois de invasão ao Capitólio, sombra ainda paira sobre Trump e Washington
Enquanto republicano pode perdoar acusados e presos, Joe Biden critica 'esforços implacáveis' para minimizar eventos do passado

Em meio à pesada neve que cobre Washington, o Congresso dos Estados Unidos se reunirá nesta segunda-feira, 6, para certificar a vitória de Donald Trump nas eleições de novembro — exatamente quatro anos após a invasão da sede do prédio por vândalos apoiadores do republicano, em 2021. A sessão conjunta entre a Câmara e o Senado será presidida pela vice-presidente Kamala Harris, derrotada na corrida à Casa Branca e dona de um futuro ainda incerto.
Ao contrário da última certificação, desta vez não são esperadas objeções ou violências, mas uma sombra ainda paira sobre Trump e Washington a respeito do passado que, segundo o presidente Joe Biden, muitos tentam apagar.
No domingo, o mandatário denunciou, em artigo de opinião publicado no The Washington Post, que chamou de “esforços implacáveis” para minimizar o que aconteceu no Capitólio em 2021, quando apoiadores de Trump tentaram, na marra, impedir a certificação da vitória do democrata, resultando em sete mortes e mais de 2,8 milhões de dólares em danos. O republicano continua fazendo falsas alegações, sem provas, de que perdeu a eleição de 2020 devido a uma suposta fraude eleitoral.
“Por grande parte de nossa história, esse processo foi tratado como uma formalidade, um ato rotineiro. Depois do que todos nós testemunhamos em 6 de janeiro de 2021, sabemos que nunca mais podemos tomá-lo como garantido”, disse. “Devemos lembrar da sabedoria do ditado de que qualquer nação que esquece seu passado está condenada a repeti-lo.”
Perguntado, um pouco antes, se vê o seu sucessor como uma ameaça à democracia, ele respondeu: “Eu acho que o que ele fez foi uma ameaça genuína à democracia. Tenho esperança de que já tenhamos superado isso”. Apesar da fala, fontes disseram à agência Associated Press que, mesmo antes da eleição presidencial, a equipe de Biden debate se ele deveria conceder indultos preventivos a uma série de inimigos de Trump para protegê-los de “represálias”.
As autoridades da Casa Branca não acreditam que os possíveis beneficiários tenham de fato cometido crimes, mas estão cada vez mais preocupadas com as repetidas ameaças de vingança feitas por Trump.
Para a democrata número 2 da Câmara, Katherine Clark, o momento é oportuno para “renovar nosso compromisso de salvaguardar a democracia americana”.
“Como líderes eleitos, nossa lealdade deve ser à Constituição, primeiro e sempre. Estamos aqui para honrar a vontade do povo e o Estado de direito”, disse.
As declarações contrastam, claro, com as falas de Trump, que ainda não reconhece a derrota em 2020 e prometeu conceder perdão a alguns dos mais de 1.500 trumpistas acusados de participar da invasão em 2021. Ao ser levado à prisão na primeira semana de dezembro, um dos invasores, Philip Grillo, disse à mídia americana que acredita que “o presidente eleito vai me tirar da cadeia assim que tomar posse”.
Grande parte dos infratores que podem receber perdões é formada por pessoas acusadas de delitos menores, como invasão de propriedade, mas que não foram acusadas de violência, segundo especialistas jurídicos ouvidos pela agência de notícias Reuters. Alguns réus de alto perfil que enfrentaram apenas acusações de delito menor incluem o fundador do Cowboys for Trump e ex-oficial eleito republicano Couy Griffin, do Novo México, e Rebecca Lavrenz, apelidada de “J6 Praying Grandma”, que Trump disse ter sido “injustamente visada”.
Mais de 170 pessoas foram acusadas de usar armas ou ferir policiais no ataque de 6 de janeiro. Um deles é Julian Khater, que foi condenado a mais de seis anos de prisão por realizar um ataque com spray de pimenta contra três policiais, incluindo Brian Sicknick, que morreu no dia seguinte.