Qual foi o conclave mais longo da história?
Eleição do sucessor de papa Francisco pode se arrastar, mas não tanto quanto um episódio marcado pro tramoias no século XIII

O secretíssimo processo para eleger o sucessor do papa Francisco vai começar na próxima quarta-feira, 7 de maio. Não é possível cravar em quanto tempo os 133 votantes do colégio cardinalício vão chegar à conclusão que substituirá a fumaça escura pela branca na chaminé da Capela Sistina – desde o início do século XX, a média é de três dias, mas fatores como a diversidade de perfis e a falta de convivência entre os membros da elite da Cúria Romana (uma vez que o falecido pontífice fez sua missão nomear clérigos de todo canto do mundo, que não vivem em Roma ou sequer na Europa), pode prolongar a escolha. Não tanto, é claro, como foi no conclave mais longo da história.
Em novembro de 1268, após a morte do papa Clemente IV, os cardeais da Igreja Católica se reuniram em Viterbo, Itália, a cerca de 110 quilômetros de Roma, para votar em um sucessor. O processo, porém só terminou em 1271 – dois anos e nove meses depois, ou exatos 1.000 dias.
Divisões profundas entre os cardeais, particularmente entre as facções francesa e italiana, causaram um impasse. Os membros do colégio cardinalício estavam divididos entre duas poderosas famílias italianas: os Guelfos, que apoiavam o papa, que é o líder espiritual da Igreja Católica; e os Gibelinos, que colocavam-se ao lado do Sacro Imperador Romano, o líder secular do grupo de regiões da Europa Central que formava um império na época.
O impasse era intransponível, os desentendimentos se arrastavam. Frustrados, os cidadãos de Viterbo decidiram dar um basta na situação e trancaram os cardeais no Palácio Episcopal da cidade. E mais: os deixaram sob severas restrições de comida e conforto, chegando a remover o teto para expô-los ao frio e chuva, na esperança de agilizar o processo.
O lado dos Guelfos acabou por prevalecer, e os cardeais finalmente elegeram o papa Gregório X em 1º de setembro de 1271.
Inspirado por esse episódio, Gregório oficializou, em 1274, as regras do conclave — do latim cum clave (“com chave”), em referência ao isolamento para evitar pressões externas. Mesmo assim, dois outros conclaves, que terminaram em 1316 e 1417, duraram dois anos ou mais.
Em 1417, a situação era particularmente periclitante. Cerca de quarenta anos antes, a Igreja se fragmentou com três papas simultâneos, período que ganhou o nome de o Grande Cisma do Ocidente. Na ocasião, representantes das cinco principais nações católicas integraram excepcionalmente o processo eleitoral, resgatando uma antiga prática de participação popular, embora a regra tenha vigorado apenas para aquele pleito.
O conclave mais curto, por sua vez, durou apenas algumas horas, em 31 de outubro de 1503. Na época, Giuliano della Rovere era um cardeal poderoso e amplamente favorecido — ele foi eleito quase imediatamente após a abertura do conclave, adotando o nome de papa Júlio II. Não deve ser o caso desta vez, mas não será uma escolha elementar: com o campo fragmentado, o sucessor de Francisco é incerto. Há alguns favoritos, mas, como diz o ditado, quem entra papa no conclave, sai cardeal.