Putin ordena maior recrutamento militar da Rússia em quase uma década
Com decreto para convocar 135 mil homens, Kremlin reforça exército em meio à escalada de ataques híbridos, especialmente com drones, na Europa

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, promulgou nesta segunda-feira, 29, um decreto que determina o recrutamento de 135 mil russos para o serviço militar obrigatório entre 1º de outubro e 31 de dezembro. Trata-se da maior mobilização desde 2016, quando 152 mil jovens foram chamados, segundo levantamento do jornal The Moscow Times.
As convocações — realizadas duas vezes ao ano, na primavera e outono — recaem sobre cidadãos entre 18 e 30 anos, ou até 35 em alguns decretos recentes, que não sejam reservistas. O serviço tem duração de um ano e, oficialmente, deve ser cumprido apenas em território russo. O Kremlin e o Ministério da Defesa asseguram que os recrutas não serão enviados à Ucrânia, mas até o próprio Putin já admitiu que parte deles acabou no front “por engano”.
De acordo com o Ministério da Defesa, a meta é aumentar o efetivo das Forças Armadas em mais de 170 mil homens, elevando o contingente total para cerca de 1,5 milhão de militares. A média das mobilizações de outono nos últimos anos tem girado em torno de 127 mil soldados.
Ataques híbridos
O anúncio ocorre em meio à intensificação dos ataques híbridos na Europa, sobretudo com o uso de drones. Nos últimos dias, incursões russas chegaram a paralisar voos em aeroportos dinamarqueses. Diante do cenário, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sugeriu que países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) poderiam derrubar aeronaves militares russas em caso de novas violações de espaço aéreo — uma declaração prontamente classificada pelo Kremlin como “irresponsável”.
Em uma iniciativa inédita, a União Europeia lançou, na última sexta-feira 26, o projeto de um “muro de drones” para reforçar a vigilância no flanco oriental do bloco. A medida, apresentada em Helsinque pelo comissário europeu para Defesa e Espaço, Andrius Kubilius, reúne dez países e prevê tanto a detecção de ameaças por sensores acústicos e radares quanto a possibilidade de neutralização das aeronaves.
Em Copenhague, o ministro da Justiça da Dinamarca, Peter Hummelgaard, comparou a atual onda de incursões com drones e outros atos de sabotagem russos a eventos como os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos. “Assim como a ameaça terrorista se tornou parte da nossa realidade depois de 2001, hoje os ataques híbridos fazem parte do nosso novo normal”, declarou em entrevista coletiva.
A preocupação é compartilhada pelos vizinhos nórdicos. O primeiro-ministro sueco, Ulf Kristersson, disse que ofensivas desse tipo poderiam atingir “qualquer país da região” e revelou que Estocolmo enviou equipamentos antidrone a Copenhague, além de oferecer cooperação entre polícias suecas e norueguesas para a segurança da cúpula da União Europeia marcada para a próxima semana.
Já a Moldávia, ex-república soviética que no último domingo elegeu um Parlamento pró-União Europeia apesar de uma campanha marcada por acusações de interferência russa, vê no avanço militar de Moscou mais um obstáculo em seu plano de aderir ao bloco até 2030.