Putin: o czar passa o trator
O que fazer quando o mandato do político de 68 anos chegar ao fim em 2024? Esticá-lo
Quando Vladimir Putin foi nomeado primeiro-ministro da Rússia, em 1999, antes de chegar à Presidência no ano seguinte, muitos pensavam que o desconhecido ex-diretor da KGB apenas daria continuidade às reformas pós-colapso soviético. Como se vê 22 anos depois, tal avaliação era pouco para suas ambições de neoczar. Desde então, não parou de mandar, com forte apoio popular e quase nenhuma resistência. O que chegou mais perto dessa condição, o proeminente adversário Alexei Navalny, está trancado em um rígido campo de prisioneiros, isolado de qualquer palanque. Com a oposição trancafiada, deu-se uma dúvida: o que fazer quando o mandato de Putin, de 68 anos, chegar ao fim em 2024? Esticá-lo. A Câmara dos Deputados russa aprovou na última quarta-feira, 24, uma norma pela qual o presidente poderá se candidatar a dois novos pleitos. Se tudo correr como o planejado, caso seja reeleito (e quem duvida?), ele governaria até 2036. Ao todo, desde 2000, seriam 32 anos no poder, mais do que o ditador Josef Stalin, que mandou e desmandou de 1922 até sua morte, em 1953. De férias na gélida tundra siberiana, no início da semana ele posou para mais uma sessão de fotos com pinta de inimigo do 007, dentro de um trator militar, como quem avisa: “Saiam da frente”. Se já parecia valentão antes, imagine agora, vacinado contra o novo coronavírus. Contudo, como nada é transparente na Rússia, Putin não informou se tomou a Sputnik V caseira ou alguma outra versão de imunizante importado. Com Putin, nada, nunca, é o que parece.
Publicado em VEJA de 31 de março de 2021, edição nº 2731