Putin diz que EUA e Otan querem empurrar Rússia para uma guerra
Em primeira fala pública sobre Ucrânia desde dezembro, presidente russo disse esperar que diálogos continuem, apesar de não cumprimento de exigências
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta terça-feira (1) que os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte, principal aliança militar ocidental, ignoraram as principais demandas de segurança feitas pelo Kremlin, o que por sua vez arriscaria uma guerra com Moscou. Essa é a primeira vez que o chefe de Estado russo fala publicamente sobre a crise envolvendo a Ucrânia desde dezembro.
Em seu discurso, Putin acusou os americanos de incitarem a Rússia a um confronto armado que o país não deseja, alertando que, apesar dos pedidos ainda não terem sido cumpridos, espera que os diálogos continuem.
“A sua tarefa mais importante é conter o desenvolvimento da nossa nação e a Ucrânia é apenas mais um instrumento para atingir esse objetivo”, disse em entrevista à imprensa em Moscou junto ao premiê da Hungria, Viktor Orbán. “Isso pode ser feito de diferentes maneiras, como nos puxar para algum conflito armado e depois forçar seus aliados europeus a decretarem essas duras sanções que estão sendo discutidas por eles”.
O Kremlin é contra a possível adesão de Kiev à aliança militar da Otan e vem alertando que uma adesão terá consequências graves. A Otan, por sua vez, afirma que “a relação com a Ucrânia será decidida pelos 30 aliados da Otan e pela Ucrânia, mais ninguém” e acusa a Rússia de enviar tanques, artilharia e soldados à fronteira com a Ucrânia para preparar um ataque.
Os Estados Unidos ameaçam a Rússia, prometendo uma “forte resposta” caso o exército russo invada a Ucrânia. Moscou, do outro lado, negou planos de invadir o país vizinho, mas há intensa movimentação militar na região.
As avaliações mais recentes da inteligência dos EUA colocam mais de 50 grupos táticos russos enviados dentro e nos arredores da fronteira com a Ucrânia, enquanto a avaliação mais recente do Ministério da Defesa ucraniano diz que a Rússia já enviou mais de 127.000 soldados à região.
Putin afirmou ainda que uma eventual adesão do país vizinho à Aliança é uma ameaça não apenas à Rússia, mas também a todos os países do mundo. Segundo ele, uma Ucrânia fortalecida pela aliança com o ocidente pode ocasionar uma guerra para recuperar a Crimeia – território anexado pelo governo russo em 2014 –, levando a um conflito armado entre a Rússia e a Otan.
“Se olharmos para todas essas situações de maneira profunda e séria, fica claro que, para evitar um desenvolvimento negativo, os interesses de todos os países, incluindo os da Rússia, devem ser levados em consideração”, disse o presidente.
Na última semana, os Estados Unidos e a Otan enviaram uma resposta por escrito às demandas feitas por Moscou. Apesar de o documento ainda não ter sido respondido de maneira oficial, Putin disse ter ficado claro que as principais preocupações russas foram ignoradas.
Mesmo realizando críticas aos americanos, o chefe de Estado russo não repetiu as mesmas ameaças feitas em dezembro e fez questão de soar mais otimista, descrevendo que a diplomacia está em andamento. Na época, chegou a dizer que “os EUA vieram com os mísseis para a porta da nossa casa e vocês exigem garantias de nós? Vocês deveriam nos dar garantias imediatamente”.
Em um sinal de mudança de tom, ele disse também que o presidente francês, Emmanuel Macron, pode visitar Moscou em breve.
“Espero que eventualmente nós possamos encontrar uma solução, embora não seja fácil. Mas para falar hoje sobre o que irá acontecer, é claro que não estou pronto para isso”, disse.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse a repórteres que a Rússia ainda está trabalhando em uma resposta formal para as propostas americanas e que elas estarão prontas assim que o presidente conseguir.
Em meio a respostas e posições contraditórias, o número de tropas russas próximas à fronteira continua a aumentar, inclusive em Belarus, ao norte. No entanto, o Kremlin diz que as tropas reunidas no país aliado participarão de exercícios militares rápidos entre 10 e 20 de fevereiro.